segunda-feira, julho 21

O poder da leitura

Fonte : Revista Seleções
Data : Novembro de 2000
Autor : David McCullough

Nada pode enriquecer mais nossa vida do que um livro.

Um dia, em pleno inverno, Theodore Roosevelt subiu em um barco improvisado, no Rio Little Missouri, em perseguição a ladrões que haviam roubado seu precioso barco a remo. Vários dias depois, alcançou-os e os ameaçou com sua Winchester, rendendo-os. Roosevelt então tratou de levar os ladrões para entrega-los à Justiça. Percorreram as terras ermas e cobertas de neve até a cadeia da cidade de Dickinson, e Roosevelt caminhou os cerca de 65 quilômetros – façanha espantosa. O que torna o episódio memorável, porém, é que durante essa jornada ele conseguiu ler Anna Karenina, de Tolstoi.
Penso nisso muitas vezes quando ouço alguém dizer que não tem tempo para ler. Estima-se que o brasileiro tenha em média quatro horas por dia para assistir à TV. Dizem que a pessoa comum lê à velocidade de 250 palavras por minuto. Assim, segundo essas estatísticas, poderíamos ler em uma semana os poemas completos de T. S. Eliot, duas peças de Thornton Wilder, os poemas completos de Maya Anglou, O som e a fúria, de Faulkner, O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e o livro dos Salmos.
Mas uma semana é muito tempo pelos padrões de hoje, quando as informações podem ser obtidas ao toque de um dedo. Querem nos convencer de que informação é aprendizagem, e isto é conversa fiada. Saber a superfície de um estado ou a capacidade do salto de uma pulga pode ser útil, mas não é aprendizagem em sim. o maior caminho para a aprendizagem – para a sabedoria, a aventura, o prazer, a compreensão da natureza humana, de nós mesmos, do mundo e de nosso lugar dentro dele – está na leitura dos livros.
Leia sempre, a vida toda. Nunca inventaram nada que nos desse tanta substância, recompensas tão infinitas pelo tempo dedicado, quanto um bom livro. Leia à vontade. Deixe que um livro conduza a outro. Isso quase sempre acontece.
Escolha um grande escritor e leia toda a sua obra. Leia sobre lugares onde nunca esteve. Leia os livros que mudaram a História: de seu país ou do mundo (como a autobiografia de Frederick Douglass e Primavera silenciosa, de Rachel Carson).
Leia os livros que sabe que devia ter lido, mas que imagina enfadonhos. Um clássico pode ser definido como um livro que é publicado por muito tempo, e um livro só é publicado por muito tempo quando é excepcional. Por que excluir o excepcional de sua experiência? E quando ler um livro que lhe agrade – uma história que tenha ampliado sua experiência de vida, que tenha “acendido a chama” -, então espalhe isso aos quatro ventos.
Levar um livro aonde quer que vá é um conselho bom e antigo. O presidente americano Johan Adams aconselhou o filho John Quncy a ter sempre consigo um livro de poesias. “Você nunca estará só”, explicou, “tendo no bolso um poeta”.

sábado, julho 19

O sino

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 2001
Autor : Douglas Wells

O orgulho da aldeia fora escondido de nazistas e soviéticos. Agora, ninguém conseguia encontra-lo.

Eu estava no centro de informações turísticas, ansioso pela minha segunda experiência como voluntário do Peace Corps. Na verdade, era apenas a terceira temporada de turismo de Hiiumaa, agora que a Estônia reconquistara sua independência.
Apesar de já ter conhecido muitos personagens interessantes, nada me preparara para o homem que surgiu naquele dia. Aparentava uns 70 anos e tinha uma calva no alto da cabeça, com grandes tufos de cabelos brancos de ambos os lados, como se saísse fumaça de suas orelhas.
- Você é Douglas Wells? – perguntou, em estoniano, segurando a borda da mesa.
- Sou – respondi. – Em que posso ajuda-lo?
- Meu nome é Jetter Tull. Vocês ainda tem aquele detector de metais?
- Por quê? – perguntei.
- Você tem de me ajudar – disse ele. – Precisamos encontrar o relógio!
- Que relógio?
- O relógio da igreja que enterraram há 50 anos – explicou, a voz baixa e rouca. – O tempo está se esgotando!
Eu não imaginava por que aquele homem estaria tão aflito por causa de um relógio velho. Mas ele tinha um ar sério e seus olhos azuis eram penetrantes e intensos. Mesmo contrariando meu bom senso, peguei o detector de metais e fomos juntos de carro para o sul da ilha. No trajeto, Tull começou a falar. Fiquei ali escutando, fascinado com sua história.

Tudo começara em meados de 1943, quando os alemães estavam sendo expulsos da Rússia. Por causa da falta de matéria-prima, disse Tull, tanto os alemães como os soviéticos andavam roubando metais. A estocagem era punida com o pelotão de fuzilamento.
Os relógios de algumas igrejas de Hiiumaa já haviam desaparecido, continuou ele, e a pequena aldeia de Emmaste temia ser a próxima. Orgulho da aldeia, o relógio pesava cerca de 180 quilos, era de bronze maciço e estava na torre desde 1925.
Fiquei intrigado com as palavras de Tull – não podia imaginar um relógio de bronze daquele tamanho. Mas não quis interromper a história.
Ele explicou que uma noite, em junho de 1943, seis homens da aldeia enterraram em segredo o relógio na floresta, perto de Emmaste. Planejavam devolve-lo à torre da igreja após a guerra.
Mas não foi o que aconteceu. Terminada a guerra, um dos rapazes foi mandado para a Sibéria e morreu. Os outros cinco, entre eles Einar Tark, fugiram para a Suécia antes da chegada do exército soviético. Um deles, Theodore Pruul, foi capturado e voltou a Hiiumaa depois da guerra. Quando os soviéticos retonaram o controla da ilha, ele se manteve em silêncio, temendo as conseqüências. Seria difícil explicar o relógio de bronze enterrado.
Enquanto isso, outros moradores haviam procurado o relógio, sem êxito. Acabaram concluindo que Tark, ainda vivo na Suécia, vendera-o . Essa era, então, a missão de Jetter Tull em Hiiumaa: encontrar o relógio e limpar o nome do amigo antes que ele morresse.
Infelizmente o tempo nublara a memória de Tark. Nem ele nem Pruul se lembravam da exata localização do relógio.

Quando chegamos a Emmaste, Tull me guiou até um local próximo a uma antiga fazenda. Para lá e para cá, de um lado para o outro, fui andando com o detector de metais, o homem logo atrás de mim. A cada bipe do aparelho, ele saltava à frente e começava a cavar. Mas nossas buscas foram em vão. Ao anoitecer, resolvi desistir.
“Talvez outra pessoa o tenha desenterrado e vendido”, comentei. “Em todo caso, aqui não está.”
Voltamos para meu apartamento, onde ele se despediu, apertando-me a mão, mas notei que sua mente estava em outro lugar. Fiquei feliz por me ver livre de tudo aquilo.
Certo dia, em dezembro, eu estava no centro de informações, olhando a chuva e o granizo que caíam do lado de fora. Não havia nenhum turista, por isso fiquei surpreso ao ouvir a porta se abrir e alguém limpar os pés no capacho.
Uma cabeça apareceu no vão da porta e uma das mãos tirou o gorro de lã que a cobria, revelando as sobrancelhas espessas e os cabelos brancos inconfundíveis.
- Tenho novidades! – exclamou Tull.
Ele fora à Suécia visitar Tark, que lhe disse que tínhamos procurado no lugar errado.
Olhei com desânimo o granizo caindo lá fora.
- O senhor poderia voltar outro dia? – perguntei. – O tempo está feio e não creio que o relógio vá sair de onde está.
Tull, porém, não quis saber de nada.
- A honra de um homem está em jogo! – protestou.

Seguimos em silêncio no carro, os limpadores de pára-brisas marcando um ritmo regular. Eram cerca de 13 horas, mas já começava a escurecer.
Paramos numa estrada de cascalho cerca de um quilômetro ao sul de onde tínhamos feito a primeira busca. Havia um arvoredo, um lava-carros abandonado e o que poderia ter sido uma instalação para secagem de cereais. Parecia um local bem improvável, mas Tull tirou uma pá da mala do carro e me conduziu na direção do lava-carros.
Conecei a andar para a frente a para trás no meio do mato rasteiro, passando o detector em volta das árvores e no fosso à margem da estrada. Os únicos ruídos eram o do nosso detector e da chuva pingando das folhas. Tull gritava: “Tente aqui! Tente ali!”
Isso é ridículo!, pensei, enquanto a luz aos poucos se extinguia e a umidade penetrava em minhas roupas. Tull me olhava calado, e acho que leu meus pensamentos. Apontando para um pequeno grupo de árvores, a menos de cinco metros do lava-carros, ele suplicou: “Por favor, tente só mais aquele lugar.”
Saí do fosso, resmungando: “Se isso for mesmo alguma espécie de ícone da igreja e se Deus quiser que seja encontrado, assim será. Está nas mãos Dele, e não nas minhas. Vou para casa e esquecer essa história.” Nem 30 segundos depois, o detector de metais emitiu um bipe forte. Havia algo realmente grande enterrado entre as pequenas árvores.
Tull afastou as folhas e enviou a pá na terra. A lâmina bateu em algo sólido antes de chegar a 15 centímetros de profundidade. Ele se ajoelhou e começou a cavar com as mãos nuas, tirando lama entre as pernas, como um fox terrier alucinado. Fiquei olhando espantado, quando ele desenterrou um aro de cerca de 90 centímetros de diâmetro, certamente nada que se assemelhasse a um relógio.
- Ora, não é isso – eu disse, e comecei a me afastar.
- Do que você está falando? – reagiu Tull. – Nós o encontramos! Volte aqui e me ajude!
Obedeci e, ao cavarmos mais, vi um imenso sino de igreja.
De repente me lembrei de que a palavra estoniana para “relógio” era a mesma para “sino”. Mas como “relógio” era muito mais comum, eu entendera tudo errado, desde o início.
- Precisamos de ajuda! E temos de contar ao antigo pastor da igreja – disse Tull. – Ele estava em Emmaste quando o sino foi enterrado.

Um cachorrinho latiu, excitado, quando paramos diante da velha casa de fazenda em que morava o pastor Reinvalla. Sua mulher já tinha aberto a porta quando chegamos à varanda.
- Onde está Guido? – perguntou Tull, nervoso.
A mulher nos olhou intrigada.
- Está assistindo à TV – começou a dizer -, mas o que...?
Tull passou depressa por ela e entrou na sala. Agarrou o pastor pelos ombros e o sacudiu com tanta força que quase derrubou os óculos do pobre homem.
- Gudo! Encontramos o sino! – gritou.
- Por que está gritando? – perguntou o pastor. – O que você quer?
- Encontramos o sino! – repetiu Tull. – O sino da igreja de Emmaste!
Depois de alguns segundos, a compreensão se espelhou no rosto do pastor e seus olhos se iluminaram.
- O sino! – exclamou ele, levantando-se de um salto.
Largando a bengala, foi direto para a porta da frente.
- Você não vai sair sem o casaco e as botas – disse a mulher, agarrando-o pelo colarinho.
Enquanto ela o ajudava a se calçar e colocava um boné em sua cabeça, o pastor parecia uma criança querendo fugir para brincar na primeira neve do inverno.
- deixe-me ir! – insistiu ele, libertando-se finalmente.
A mulher lhe estendeu a bengala, mas ele não fez caso. Quando partimos, olhei para trás e vi a silhueta dela delineada contra a luz da porta aberta, as mãos dobradas numa oração silenciosa de agradecimento.
Quando paramos o carro na estrada lamacenta perto do lava-carros, o pastor Reinvalla foi o primeiro a descer. Agarrado ao braço de Tull, dirigiu-se ao lugar onde o sino se achava meio desenterrado. Ali caiu de joelhos, aos prantos.
Duas senhoras passaram de bicicleta e pararam para saber por que o pastor estava ajoelhado. Aproximaram-se, deram uma olhada no sino e partiram a toda. Dali a pouco começaram a chegar os moradores de Emmaste. Quando ou cinco de nós tentaram puxar o sino da terra, mas ele não se moveu. Por fim, alguém surgiu com uma escavadeira.
O sino foi erguido e carregado por cerca de 400 metro, e em seguida colocado no piso da igreja. O pastor rezou um breve ofício para Benzê-lo e dar-lhe as boas-vindas ao lar

Dias depois voltei aos Estados Unidos para as festas de fim do ano. A rota do vôo que deixava Tallinn passava bem por cima de Hiiumaa. Olhei para a ilha em forma de cruz, lá embaixo.
Imaginei o sino tocando pela primeira vez em mais de 50 anos. Nas noites geladas o som chegaria às aldeias vizinhas, chamando as pessoas para presenciar o milagre em Emmaste. “Feliz Natal”, murmurei.

sexta-feira, julho 18

O poço de Ryan

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 2001
Autor : Kathy Cook

Surpreso ao saber que crianças africanas morriam por falta de água potável, um menino resolve agir.

Ryan Hreljac, 6 anos, ficou chocado ao ouvir o que dizia sua professora da 1ª série na escola católica em Kemptville, Ontário. Nancy Prest falava sobre o triste destino de crianças que viviam na África empobrecida e devastada por doenças, onde era difícil o acesso a remédios, alimentos e água potável. Ryan estremeceu ao saber que centenas de crianças africanas morrem todos os anos por beberem água contaminada.
Era janeiro de 1998, e a escola estava angariando fundos para ajuda à África. Nancy explicou que 25 centavos de dólar dariam para comprar 175 vitaminas; 60 centavos, para fornecer dois anos de medicamentos a uma criança, e que 70 dólares custeariam um poço.
Ao chegar em casa, Ryan foi logo dizendo aos pais, Susan e Mark:
- Preciso de 70 dólares para um poço na África!
- Que bom – respondeu a mãe, sem prestar atenção.
Durante o jantar, Ryan tentou de novo.
- Ryan, 70 dólares é muito dinheiro – disse Susan. – Não temos esta quantia disponível.
- Vocês não entenderam – insistiu o menino. – Tem crianças morrendo por falta de água limpa!
- Se está mesmo pretendendo conseguir 70 dólares, pode fazer tarefas extras em casa – disse Suzan, supondo que o filho logo se esqueceria do projeto.
Mas o rosto de Ryan se iluminou e, para encoraja-lo, Susan desenhou um diagrama num papel, contendo 35 linhas. Cada linha representava dois dólares. Para cada dois dólares recebidos, Ryan preenchia uma linha e guardava o dinheiro numa lata vazia de biscoitos.
Sua primeira tarefa – aspirar a casa – rendeu-lhe dois dólares. Dias depois, lavou as janelas. Mais dois dólares. Depois, o avô o encarregou de catar as pinhas que caíam no quintal, pagando dez dólares para cada saco de lixo que enchesse.
Quando a primavera chegou, Susan viu, com orgulho, que o diagrama de Ryan tinha dois terços preenchidos. À quem se entregam 70 dólares para a construção de um poço na África?, perguntou-se. Sua amiga Brenda Cameron Couch, que trabalhava em uma organização internacional de desenvolvimento, falou a Susan a respeito da WaterCAn, uma instituição sem fins lucrativos de Ottawa, que financia e orienta projetos de construção de poços em países em desenvolvimento.
Brenda ligou para a WaterCan e contou o caso de Ryan. “Setenta dólares podem não parecer muito, mas ele trabalhou duro por isso”, explicou ela. “Gostaria que Ryan lhes desse o dinheiro pessoalmente”.

Certo dia de abril, Ryan entregou sua lata de biscoitos a Nicole Bosley, então diretora executiva da WaterCan. Agradecendo ao menino, Nicole explicou que, embora uma bomba manual custasse 70 dólares, seriam necessários quase 2 mil para perfurar um poço. Jovem demais para avaliar uma importância tão alta, Ryan respondeu: “Então vou trabalhar mais.”
A Agência de Desenvolvimento Internacional Canadense contribui para os financiamentos da WaterCAn na proporção de dois para um; portanto, Ryan teria de reunir 700 dólares. Naquela noite, Susan e Mark ficaram conversando sobre o assunto. Como um menino de 6 anos poderia conseguir 700 dólares com o seu trabalho?
Brenda enviou um e-mail a parentes e amigos, contando sobre o poço de Ryan. Chegou o verão e Ryan, já com 7 anos, continuava juntando dinheiro. Periodicamente, Susan enviava suas doações para a WaterCAn.
Pouco depois, a agência comunicou qu os donativos haviam ultrapassado os 700 dólares. Convidaram Ryan e Susan para uma reunião com Gizaw Shibru, representante de Uganda na associação Médicos Canadenses para Auxílio e Assistência. Esse grupo recolhia os fundos angariados pela WaterCan e, com a ajuda dos habitantes das aldeias, construía e mantinha os poços.
Ao chegar, Shibru abraçou Ryan, dizendo: “Soube que você nos conseguiu um poço. Obrigado”. Ryan perguntou se o poço poderia ser localizado perto de uma escola. Shibru examinou sua lista e disse que seria construído junto à Escola Elementar Angolo, no norte de Uganda.
A Angolo ficava numa zona que havia anos sofria com a seca e o flagelo da Aids. A fonte de água mais próxima era um pântano a quase cinco quilômetros de distância. Muitas crianças tinha o abdome dilatado por causa de vermes intestinais. O tifo e outras doenças potencialmente fatais, transmitidas pela água, também eram comuns.

Ryan ouvia com atenção, enquanto Shibru contava que eram necessárias 20 pessoas trabalhando dez dias para construir um poço com um escavador manual.
- Um equipamento de perfuração nos permitiria construir mais poços – acrescentou.
Uma perfuradora pequena custava 25 mil dólares.
-Vou conseguir o dinheiro para essa máquina – disse Ryan.
Em casa, Susan contou a Mark: “Agora vamos angariar 25 mil dólares.” Mark reagiu com preocupação. Não estariam levando Ryan a um fracasso?
Susan falou sobre o trabalho de Ryan a Derek Puddicombe, um antigo conhecido, jornalista.
“Que história fantástica!”, exclamou Puddicombe. Ele escreveu um artigo para o Ottawa Citizen, que logo foi publicado por jornais de todo o Canadá. Dentro de dois meses, Ryan já tinha inspirado 7 mil dólares em doações.
A essa altura o menino já passara para a 2ª série. A nova professora pediu que a WaterCan ajudasse a turma a se corresponder com os alunos da Angolo. Alguns meses depois, Ryan recebia sua primeira carata:
“Caro Ryan, meu nome é Akana Jimmy. Tenho 8 anos. Gosto de futebol. Nossa casa é feita de capim. Como é viver na América? Seu amigo, Akana Jimmy.”
Ryan passou semanas falando com entusiasmo do novo amigo. Será que algum dia vamos nos encontrar?, pensava o garoto. Enquanto isso, passava horas escrevendo cartas pedindo dinheiro a várias organizações para sua perfuradora. Em novembro, tinha conseguido o dinheiro para o equipamento.
Pouco antes do Natal, Bruce Paynter, vizinho dos Hreljacs que viajava muito de avião, deu a Ryan e a seus pais um presente inesperado: milhagens aéreas para ajudar a leva-los a Uganda a fim de conhecer o poço de Ryan.

Em 27 de julho de 2000, um caminhão transportando Shibru, Ryan e os pais desceu a estrada de terra perto de Angolo. Quatro cirançinhas os viram e começaram a gritar: “Ryan!, Ryan!, Ryan!”
- Elas sabem meu nome! – exclamou o menino.
- Todos aqui sabem seu nome, Ryan – comentou Shibru.
Depois de uma curva, cerca de 3 mil crianças aguardavam na beira da estrada, batendo palmas. Uma banda precedeu o cortejo até a escola.
Lá, os líderes da aldeia receberem Ryan e o levaram até o poço, ao lado da horta da escola. Na base de concreto havia uma inscrição:

Construído por Ryan Hreljac
Para a comunidade da Ecola
Elementar Angolo


Jimmy estava esperando ali perto.
- Oi – disse o menino, muito encabulado.
- Oi, Jimmy – respondeu Ryan.
Dali a pouco, um dos líderes começou a falar. “Olhem nossas crianças”, disse. “Podem ver que estão saudáveis. Graças a Ryan e nossos amigos do Canadá. Para nós, água é vida.”
Cerca de 20 meninos separaram-se do povo e começaram a executar uma tradicional dança de caça. Ryan riu quando Jimmy o pegou pela mão e o levou para juntar-se ao grupo. A festa durou quatro horas.
À noite na cama, Ryan disse à mãe: “Estou muito feliz.” Terminou aquele dia inesquecível com a oração que fazia todas as noites: “Desejo que todos na África tenha água limpa.”

Ryan ajudou a angariar cerca de 70 mil dólares par a compra de equipamentos. Mais de 30 poços já foram construídos: com significativa redução do número de ocorrências de doenças transmitidas pela água.