sexta-feira, julho 18

O poço de Ryan

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 2001
Autor : Kathy Cook

Surpreso ao saber que crianças africanas morriam por falta de água potável, um menino resolve agir.

Ryan Hreljac, 6 anos, ficou chocado ao ouvir o que dizia sua professora da 1ª série na escola católica em Kemptville, Ontário. Nancy Prest falava sobre o triste destino de crianças que viviam na África empobrecida e devastada por doenças, onde era difícil o acesso a remédios, alimentos e água potável. Ryan estremeceu ao saber que centenas de crianças africanas morrem todos os anos por beberem água contaminada.
Era janeiro de 1998, e a escola estava angariando fundos para ajuda à África. Nancy explicou que 25 centavos de dólar dariam para comprar 175 vitaminas; 60 centavos, para fornecer dois anos de medicamentos a uma criança, e que 70 dólares custeariam um poço.
Ao chegar em casa, Ryan foi logo dizendo aos pais, Susan e Mark:
- Preciso de 70 dólares para um poço na África!
- Que bom – respondeu a mãe, sem prestar atenção.
Durante o jantar, Ryan tentou de novo.
- Ryan, 70 dólares é muito dinheiro – disse Susan. – Não temos esta quantia disponível.
- Vocês não entenderam – insistiu o menino. – Tem crianças morrendo por falta de água limpa!
- Se está mesmo pretendendo conseguir 70 dólares, pode fazer tarefas extras em casa – disse Suzan, supondo que o filho logo se esqueceria do projeto.
Mas o rosto de Ryan se iluminou e, para encoraja-lo, Susan desenhou um diagrama num papel, contendo 35 linhas. Cada linha representava dois dólares. Para cada dois dólares recebidos, Ryan preenchia uma linha e guardava o dinheiro numa lata vazia de biscoitos.
Sua primeira tarefa – aspirar a casa – rendeu-lhe dois dólares. Dias depois, lavou as janelas. Mais dois dólares. Depois, o avô o encarregou de catar as pinhas que caíam no quintal, pagando dez dólares para cada saco de lixo que enchesse.
Quando a primavera chegou, Susan viu, com orgulho, que o diagrama de Ryan tinha dois terços preenchidos. À quem se entregam 70 dólares para a construção de um poço na África?, perguntou-se. Sua amiga Brenda Cameron Couch, que trabalhava em uma organização internacional de desenvolvimento, falou a Susan a respeito da WaterCAn, uma instituição sem fins lucrativos de Ottawa, que financia e orienta projetos de construção de poços em países em desenvolvimento.
Brenda ligou para a WaterCan e contou o caso de Ryan. “Setenta dólares podem não parecer muito, mas ele trabalhou duro por isso”, explicou ela. “Gostaria que Ryan lhes desse o dinheiro pessoalmente”.

Certo dia de abril, Ryan entregou sua lata de biscoitos a Nicole Bosley, então diretora executiva da WaterCan. Agradecendo ao menino, Nicole explicou que, embora uma bomba manual custasse 70 dólares, seriam necessários quase 2 mil para perfurar um poço. Jovem demais para avaliar uma importância tão alta, Ryan respondeu: “Então vou trabalhar mais.”
A Agência de Desenvolvimento Internacional Canadense contribui para os financiamentos da WaterCAn na proporção de dois para um; portanto, Ryan teria de reunir 700 dólares. Naquela noite, Susan e Mark ficaram conversando sobre o assunto. Como um menino de 6 anos poderia conseguir 700 dólares com o seu trabalho?
Brenda enviou um e-mail a parentes e amigos, contando sobre o poço de Ryan. Chegou o verão e Ryan, já com 7 anos, continuava juntando dinheiro. Periodicamente, Susan enviava suas doações para a WaterCAn.
Pouco depois, a agência comunicou qu os donativos haviam ultrapassado os 700 dólares. Convidaram Ryan e Susan para uma reunião com Gizaw Shibru, representante de Uganda na associação Médicos Canadenses para Auxílio e Assistência. Esse grupo recolhia os fundos angariados pela WaterCan e, com a ajuda dos habitantes das aldeias, construía e mantinha os poços.
Ao chegar, Shibru abraçou Ryan, dizendo: “Soube que você nos conseguiu um poço. Obrigado”. Ryan perguntou se o poço poderia ser localizado perto de uma escola. Shibru examinou sua lista e disse que seria construído junto à Escola Elementar Angolo, no norte de Uganda.
A Angolo ficava numa zona que havia anos sofria com a seca e o flagelo da Aids. A fonte de água mais próxima era um pântano a quase cinco quilômetros de distância. Muitas crianças tinha o abdome dilatado por causa de vermes intestinais. O tifo e outras doenças potencialmente fatais, transmitidas pela água, também eram comuns.

Ryan ouvia com atenção, enquanto Shibru contava que eram necessárias 20 pessoas trabalhando dez dias para construir um poço com um escavador manual.
- Um equipamento de perfuração nos permitiria construir mais poços – acrescentou.
Uma perfuradora pequena custava 25 mil dólares.
-Vou conseguir o dinheiro para essa máquina – disse Ryan.
Em casa, Susan contou a Mark: “Agora vamos angariar 25 mil dólares.” Mark reagiu com preocupação. Não estariam levando Ryan a um fracasso?
Susan falou sobre o trabalho de Ryan a Derek Puddicombe, um antigo conhecido, jornalista.
“Que história fantástica!”, exclamou Puddicombe. Ele escreveu um artigo para o Ottawa Citizen, que logo foi publicado por jornais de todo o Canadá. Dentro de dois meses, Ryan já tinha inspirado 7 mil dólares em doações.
A essa altura o menino já passara para a 2ª série. A nova professora pediu que a WaterCan ajudasse a turma a se corresponder com os alunos da Angolo. Alguns meses depois, Ryan recebia sua primeira carata:
“Caro Ryan, meu nome é Akana Jimmy. Tenho 8 anos. Gosto de futebol. Nossa casa é feita de capim. Como é viver na América? Seu amigo, Akana Jimmy.”
Ryan passou semanas falando com entusiasmo do novo amigo. Será que algum dia vamos nos encontrar?, pensava o garoto. Enquanto isso, passava horas escrevendo cartas pedindo dinheiro a várias organizações para sua perfuradora. Em novembro, tinha conseguido o dinheiro para o equipamento.
Pouco antes do Natal, Bruce Paynter, vizinho dos Hreljacs que viajava muito de avião, deu a Ryan e a seus pais um presente inesperado: milhagens aéreas para ajudar a leva-los a Uganda a fim de conhecer o poço de Ryan.

Em 27 de julho de 2000, um caminhão transportando Shibru, Ryan e os pais desceu a estrada de terra perto de Angolo. Quatro cirançinhas os viram e começaram a gritar: “Ryan!, Ryan!, Ryan!”
- Elas sabem meu nome! – exclamou o menino.
- Todos aqui sabem seu nome, Ryan – comentou Shibru.
Depois de uma curva, cerca de 3 mil crianças aguardavam na beira da estrada, batendo palmas. Uma banda precedeu o cortejo até a escola.
Lá, os líderes da aldeia receberem Ryan e o levaram até o poço, ao lado da horta da escola. Na base de concreto havia uma inscrição:

Construído por Ryan Hreljac
Para a comunidade da Ecola
Elementar Angolo


Jimmy estava esperando ali perto.
- Oi – disse o menino, muito encabulado.
- Oi, Jimmy – respondeu Ryan.
Dali a pouco, um dos líderes começou a falar. “Olhem nossas crianças”, disse. “Podem ver que estão saudáveis. Graças a Ryan e nossos amigos do Canadá. Para nós, água é vida.”
Cerca de 20 meninos separaram-se do povo e começaram a executar uma tradicional dança de caça. Ryan riu quando Jimmy o pegou pela mão e o levou para juntar-se ao grupo. A festa durou quatro horas.
À noite na cama, Ryan disse à mãe: “Estou muito feliz.” Terminou aquele dia inesquecível com a oração que fazia todas as noites: “Desejo que todos na África tenha água limpa.”

Ryan ajudou a angariar cerca de 70 mil dólares par a compra de equipamentos. Mais de 30 poços já foram construídos: com significativa redução do número de ocorrências de doenças transmitidas pela água.

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