sexta-feira, março 16

A essência do carioca

Fonte : Revista Seleções
Data : Maio de 1998
Autora : Priscilla Ann Goslin

Dicas para você visitar o Rio de janeiro e não passar por um turista.

Seja de férias ou a negócios você vai querer passar grandes momentos quando visitar o Rio de Janeiro, a capital do prazer e do sol. Mas sendo o viajante sofisticado que é, você não vai querer fazer um espetáculo de si próprio agindo como turista. Vai querer parecer um dos moradores da cidade. Vai querer ser um carioca!
Um carioca de verdade é uma pessoa que:
A . Mora na cidade do Rio de Janeiro, de preferência na praia ou perto dela (ou pretende morar).
B. Confessa ter entre 15 e 39 anos.
C. :Tem o hábito de ir à praia antes, depois ou em vez de ir trabalhar.
É claro que a arte de ser carioca incorpora uma infinidade de peculiaridades culturais. Eis as dicas essenciais que permitirão que você abra seu coração e entre no clima da fascinante e charmosa cidade do Rio de Janeiro.

O guarda-roupa
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, você rapidamente perceberá que, morando numa cidade informal, o carioca se veste confortavelmente, o que não quer dizer que ele ignore a importância de estar na moda. Não importa se ele está flanando no shopping center ou paquerando em Ipanema, indo ao trabalho ou simplesmente na praia, o carioca da gema é extremamente consciente de sua aparência.
Ponto de encontro social, a praia tem uma regra de vestir bem explícita. E é aí que o turista é reconhecido de imediato. Chegando à praia todo vestido, o turista tira camadas de roupa e exibe um multicolorido traje de banho que ressalta ainda mais a sua brancura translúcida. Por favor, resista à tentação. Uns dias na piscina do hotel servirão para ganhar uma cor legal.
Seguem-se alguns itens essenciais que você pode comprar em Copacabana ou no camelô da primeira esquina. Vista-as ostensivamente e você já vai poder sair por aí parecendo carioca:
Para ela – jérsei cavado, apertado (5), relógio de plástico (1), bermuda jeans (2), saiote curto, apertado 93), kanga (2), tanga (5), macacão de ginástica (5), sacola de praia (1), bijuteria (de montão).
Para ele – camiseta de surfista (5), short de surfista (3), sunga (2), relógio de mergulhador (1 falso), calça jeans apertada (1), pochete (1), havaianas (1 par), roupa de ginástica (5), tênis (1 par), camisa social (1).

O pedido de informações
Sinais evidentes da beleza do Rio são encontrados por todos os lados, mas o mesmo não acontece com os sinais indicativos de bairros e ruas. Às vezes, até o carioca mais experiente tem de reconhecer que se perdeu. Se isso acontecer, não se apavore. Basta parar a primeira pessoa que passar ou estiver por perto e pedir informações.
Seja da janela do ônibus, do carro, na calçada, em qualquer lugar, o carioca vai parar o que estiver fazendo para dar assistência. E você pode ter certeza de que ele o fará de bom grado e do modo mais simpático. A mão no queixo, o balanço da cabeça nas duas direções, uma breve pausa e depois o carioca dará a você uma longa série de informações intrincadas de como chegar ao seu destino, muitas vezes com várias opções.
No caso raríssimo de o carioca não conhecer o lugar onde você quer ir, ele próprio dirigirá a pergunta à pessoa mais próxima, que conseqüentemente perguntará a uma terceira. Logo se formará pequeno grupo, talvez pequena multidão.

Cariocas sobre rodas
No Rio, dirigir pode ser uma experiência desafiadora. Pelo número de carros arranhados e amassados na rua, você pode ficar com a impressão de que os cariocas não se importam de bater nos carros. Nada disso. Como qualquer pessoa, o carioca fica furioso se alguém bate ou arranha o seu carro. A única diferença é que, no Rio, se você levar o carro para a oficina cada vez que tiver um arranhão ou uma pequena batida, vai acabar esquecendo que tem carro. Além disso, qual o mal de uma ou duas batidinhas?
Cuidado quando o pisca-pisca do carro da frente indicar que vai virar para a esquerda ou para a direita. Os cariocas tem o hábito de fazer uma curva longa na direção oposta à que estão indo, confundindo completamente quem vem atrás.
No Rio, já se disse que o menor espaço de tempo conhecido é o intervalo entre o sinal que fica verde e a buzina do motorista de trás. Como os sinais de trânsito muitas vezes estão escondidos estrategicamente atrás de árvores ou bem alto nos cruzamentos, buzinar para que o motorista na sua frente saiba que o sinal mudou representa cortesia comum no trânsito.
É imprescindível verificar sempre o espelho retrovisor. Em fração de segundos, você pode notar um carro que lá não estava, a milímetros do seu, acendendo e apagando os faróis altos. Esse é o modo carioca de avisar que você deve ceder passagem, pois o motorista quer ultrapassar. Se não ceder, ele vai forçar a barra de qualquer modo e entrar naquele espaço aparentemente invisível na sua frente.
Quando parece que ninguém vai deixar você passar a pista de velocidade, sair do estacionamento ou fazer uma curva, use a “técnica do polegar”. Basta colocar a mão para fora da janela, polegar para cima, sorrir e meter a cara. Assim, qualquer manobra, por mais maluca que seja, está automaticamente justificada.

O bem alimentado carioca
Os nativos do Rio de Janeiro amam sua comida. Lugar perfeito dos carnívoros cariocas e sede do campeonato de “vamos ver quem come mais”, a churrascaria rodízio oferece ao freguês a oportunidade de comer a preço fixo a quantidade de carne que puder agüentar. A tradição manda ficar de jejum antes da grande comilança.
Os garçons se movem à velocidade da luz, e antes que você consiga falar “lingüiça” eles já estão cortando outro pedaço de carne e colocando-o em seu prato.
Para evitar indigestão, recomenda-se que você cubra o prato com a mão até que esteja pronto para outro pedaço de carne. Apesar de existir o risco de acabar espetado, esse é o único meio de avisar o garçom que você precisa de mais tempo antes de se fartar. A churrascaria rodízio não é recomendada a quem está de dieta, aos vegetarianos ou quem gosta de ficar de bate papo nas refeições.
O carioca é também movido a cafeína. Para aproveitar o cafezinho à maneira carioca, despeje pelo menos duas colheres de sopa de açúcar na xícara pequena, coloque o café, mexa e tome em dois goles. Consumido a toda hora no boteco mais próximo, no escritório ou depois de uma refeição, o cafezinho é o ritual obrigatório da cena carioca.

Romance carioca
Se está à procura de romance, veio ao lugar certo. Os cariocas ocupam posição de destaque na lista mundial de povos românticos. A promessa de romance está na música, na ginga, na fala. Vá em frente. Comece a andar mais solto, balançando o corpo. Nunca se sabe, você pode encontrar o amor de sua vida no Rio de Janeiro.
Solteiro, casado, viúvo, idoso ou jovem, o carioca sempre está a fim de alguém. Dar em cima de uma nova pessoa é desafio pessoal que o carioca enfrenta com entusiasmo, criatividade e garra.
Por exemplo, imagine a seguinte cena: você está em seu carro, atrasado para um encontro de negócios, esperando o sinal abrir. O trânsito é intenso, não dá para avançar o sinal. Você pode ficar sentado com os olhos fixos no sinal ou simplesmente fazer como o carioca faria. Com a marcha em primeira, mantenha um pé na embreagem e com o outro acelere. Olhe para os carros ao redor e tente avistar alguma gata interessante. Se aparecer, buzine algumas vezes tentando contato e, mudando o sinal, fique atrás do carro dela piscando os faróis (pelo menos cinco vezes). Com sorte, no próximo sinal vocês já estarão trocando os números de telefone!
As mulheres também não precisam ficar por fora. Certa mulher conhecida, vendo um gatão passeando com seu cachorro na calçada todos os dias, foi à luta e comprou uma cadela da mesma raça. No dia seguinte, ela o encontrou na calçada, sugerindo que os cachorros cruzassem. Foi o início de um lindo relacionamento.
O segredo para agir como um verdadeiro carioca é entender a solução para tudo que o aflige. Seu telefone não funciona e seu carro não liga? Fique numa boa, e faça como o carioca. Coloque um sorriso nos rosto, calce suas havaianas e vá à praia. Afinal de contas, não há nada que algumas horas de praia não curem.
Falou!

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