sábado, março 31

O dia em que conheci Harry Truman

Fonte : Revista Seleções
Data : Janeiro de 1974
Autor : Lawrence Bookman

As portas do elevador se fecharam silenciosamente atrás de mim. Sem pressa, dirigi-me para o longo corredor do Hotel Hilton, em Beverly Hill. Meus pés afundavam no tapete, juntamente com minha autoconfiança. No começo, tinha me parecido uma boa idéia. Mas, e agora?
Em 1959, eu tinha 14 anos. Minha tarefa, na classe de jornalismo, tinha sido a de entrevistar um político. Quando li que o ex-presidente Harry Truman estava em Los Angeles, tive a idéia. Telefonei imediatamente para o hotel, a fim de solicitar uma entrevista. A telefonista ligou-me com o secretário dele, o qual me informou que o “Sr. Truman não dá entrevistas individuais”.
O desapontamento devia estar patente em minha voz, enquanto eu explicava o meu problema. “Bem, senhor”, disse amavelmente o secretário, “o Sr. Truman dará uma entrevista hoje. Pode comparecer, se quiser.”
Na hora, aquilo me pareceu um fascinante desafio. Mas, assim que bati à porta, maciça e decorada, da suíte presidencial, tive vontade de voltar e correr.
A porta se abriu, e um repórter alto e mal humorado perguntou-me o que eu queria. Ouvi uma voz distante, que devia ser a minha, dizer num tom estranhamente grave: “O secretário do Sr. Truman me pediu que viesse.” Disse a mim mesmo que aquilo não era exatamente mentira; afinal, ele tinha sugerido que eu poderia vir.
Por um momento, o repórter hesitou. Então, seu rosto se abriu num sorriso, e ele me convidou a entrar. O presidente ainda não tinha chegado. Olhei furtivamente para os dez ou doze jornalistas presentes na sala, quase todos fumando, enquanto conversavam em voz baixa.
O repórter que tinha vindo abrir a porta perguntou meu nome e o de minha escola. Vários outros também me fizeram perguntas e tomaram algumas notas. Então, deixei-me afundar numa poltrona de couro, muito grande para mim, e examinei minha magra lista de perguntas. O que poderia eu perguntar a um homem que tinha se tornado presidente dos Estados Unidos no ano em que eu nascera? O que poderia eu, um ginasiano interessado em história e ciências políticas, dizer a um homem que já tinha feito mais história do que eu havia lido?
No momento seguinte, a porta se abriu e todo mundo se pôs de pé. Truman entrou. Quando voltei a me sentar, o repórter que me admitira disse:
“Sr. Presidente, há aqui repórteres do Times de Los Angeles, do Examiner de Los Angeles, do Christian Science Monitor, do Herald-Express de Los Angeles e do jornal do Ginásio de Palms.” À menção do último jornal, todos sorriram.
Truman também. Virou-se lentamente em direção à cadeira na qual eu estava tentando me esconder. Podia sentir os seus olhos me espreitando através dos óculos de lentes grossas. Minhas mãos estavam úmidas, enquanto eu manuseava nervosamente o bloco de notas.
De repente, o presidente deu um sorriso. “Poderia se aproximar o cavalheiro do jornal do Ginásio de Palms?”, perguntou.
Meio entorpecido, levantei-me e deixei a segurança de minha poltrona. Quando me aproximei do presidente, comecei a gaguejar a primeira pergunta prevista em meu bloco. “Sr. Truman, que conselho daria aos...”
“Espere um minuto, meu filho”, ele riu, depositando sua mão sobre a minha. “Antes de mais nada, como se chama?’
“Buzzy Bookman, senhor presidente.”
“Bem, Sr. Bookman”, disse com um brilho nos olhos, “diga-me por que um repórter do jornal do Ginásio de Palms se interessaria em entrevistar um velho como eu?”
Pela primeira vez, desde que saí daquele elevador, consegui me sentir à vontade. Sorri para o ex-presidente quando ele se referiu a si próprio como “um velho”.
“Sr. Presidente”, interrompeu um dos jornalistas, “que tal umas fotos do Sr. Bookman o entrevistando?’ Imediatamente, alguém me disse para me postar ao lado do presidente, e os flashes começaram a espocar. Truman sorriu ao me ver piscando os olhos. “Esses jornalistas nunca acertam da primeira vez”, comentou ironicamente. “Agora, qual era mesmo aquela importante pergunta que me ia fazer?”
“Bem, senhor, que conselho daria a um jovem interessado em entrar para a política?”
“Estudar história e direito”, foi a sua imediata resposta. “Para se tornar um bom político, atualmente, a pessoa precisa conhecer e compreender o passado.”
Truman olhou-me nos olhos, enquanto pousava sua mão sobre o meu ombro. “Principalmente”, disse com sinceridade, “não abandone a sua ambição!” Então, virando-se para os outros, com uma abrupta mudança de gestos, acrescentou: “Nosso país precisa hoje é de bons cidadãos e bons políticos.” Este comentário provocou risos de simpatia e aprovação de todos os presentes, exceto de mim.
Em dezembro do ano passado, 13 anos depois de meu encontro com o Presidente Truman, eu estava estudando para os exames finais na Faculdade de Direito, quando minha mulher entrou no quarto. “Ouvi na TV”, disse. “Ele acaba de morrer.”
Sabia a quem ela se referia, porque há várias semanas eu vinha lendo tudo que se publicava sobre a doença de Truman. E sabia também que, logo, uma longa lista de amigos e adversários, estadistas, jornalistas e políticos começariam a elogia-lo e a especular sobre o enigma de sua grandeza. E não havia nada que eu pudesse acrescentar sobre o nosso breve encontro, a não ser que escrevesse algo sobre ele.
Mas bem que eu podia ter escrito aquela carta. Estava agora em meu 3º ano na faculdade. Desde aquela entrevista coletiva, há tanto tempo, eu tinha estudado história a fundo.
Durante anos, pensei em escrever a Truman, para dizer-lhe que o repórter do jornal do Ginásio de Palms nunca esquecera o seu conselho a um jovem, e tentava, sinceramente, se tornar um bom cidadão e um bom político.
Mas então já era tarde.

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