segunda-feira, dezembro 5

O Papai Noel que existe dentro de mim

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 1983
Autor : Jay Frankston

Era bom termos um assim para nós!

Não há nada mais bonito que uma criança acreditar em Papai Noel. Eu sempre sonhei com ele, mas sou judeu e meus pais não comemoravam o Natal. Era o feriado de todas as outras pessoas – uma grande festa para a qual eu não era convidado. Não eram os brinquedos que me seduziam, mas o Papai Noel e a árvore de Natal. Então, depois que casei e vieram os filhos, resolvi dar a eles o que eu não tivera.
Comecei com uma árvore de dois metros de altura, toda decorada com luzes e enfeites. Corria o ano de 1956 e nós morávamos em Nova York. Minha filha Claire tinha apenas dois anos, mas, quando olhava para a árvore, sorria e seus olhinhos brilhavam. Nossa árvore desprendia uma sensação de enlevo que enchia todos os cantos da casa. Coloquei uma estrela de Davi no alto dela, para contentar as pessoas cujos sentimentos israelitas ficassem perturbados com a comemoração, e sentia-me feliz de ver aquele brilho, porque agora a festa era na minha casa, e todo mundo estava convidado.
Mas faltava algo, grande e redondo e alegre, com som de sinos e uma gorda risada nos lábios: Ho! Ho! Ho!. Comprei uma fazenda de um vermelho vivo e minha mulher fez com ela uma fantasia para mim.
Algumas almofadas de soprar deram um ar mais roliço à minha delgada estrutura. Uma máscara de Papai Noel, com barbas e cabelos branquinhos e ondulados, me fez parecer tão verdadeiro como o sonho infantil do velho São Nicolau.
Estréia. Claire tinha quase quatro anos e Danny ainda não completara um, quando Papai Noel apareceu pela primeira vez lá em casa. Durante dois anos, adorei fantasiar-me de Papai Noel para meus filhos, que ficavam num misto de aterrorizados e encantados. No terceiro ano, o Papai Noel que habitava dentro de mim crescera e criara uma personalidade própria que carecia de mais espaço. Resolvi então satisfaze-lo, deixando-o mostrar-se para outras crianças também.
Um dia, num final de novembro, vi uma linda garotinha tentando alcançar a caixa de correio e dizendo: “Mamãe, você tem certeza de que o Papai Noel vai receber minha carta?”. Minha cabeça começou a girar. Que acontece com as cartas de todas aquelas crianças que escrevem para Papai Noel? Telefonei para o correio e obtive a resposta: a repartição de cartas não entregues armazenava milhares delas em enormes sacas.
Meu Papai Noel fez Ho! Ho! Ho!, e fomos diretos para o correio. Ao examinar as primeiras cartas, fiquei um pouco decepcionado com os pedidos e a ganância de tantas crianças mimadas. A maioria das cartas era só “me dá”. Mas, como o meu Papai Noel continuasse ouvindo um chamado de dentro da saca, continuei à procura até encontrar uma carta que me comoveu:
“Querido Papai Noel, sou uma menina de 11 anos, tenho dois irmãos e uma irmãzinha. Meu pai morreu no ano passado e minha mãe está doente. Sei que existem muitas pessoas mais pobres do que nós e não peço nada para mim, mas será que você podia nos trazer um cobertor, porque mamãe sente frio de noite?” estava assinada “Suzy”.
Catei mais fundo ainda nas sacas e achei outras oito cartas deste tipo, oriundas de extrema pobreza. Levei-as comigo e corri a passar um telegrama para cada criança: “Recebi sua carta. Estarei em sua casa. Espere por mim. Papai Noel.”
Fiz um orçamento de 150 dólares e comprei os presentes. No dia de Natal, minha mulher me levou de carro aos lugares marcados. Meu primeiro compromisso era na periferia da cidade. A carta de Peter Barski era a seguinte:
“Querido Papai Noel, tenho 10 anos e sou filho único. Acabamos de nos mudar para esta casa e ainda não tenho amigos. Não fico triste por ser pobre, mas por ser sozinho. Sei que você tem muita gente para visitar e provavelmente não vai ter tempo para mim. Por isso, não peço para vir até minha casa ou trazer alguma coisa... Mas será que você não podia mandar uma carta para eu saber que você existe?”
“Querido Peter”, assim começava meu telegrama. “Não somente existo, como estarei aí no dia de Natal. Espere por mim.”
A casa de Peter, mais barraco que casa, ficava espremidinha entre dois prédios. O telhado era de ondulado de zinco. Com um saco de brinquedos nos ombros, subi os degraus e bati à porta. Um homem abatido abriu.
“Boze moj!” (Meu Deus!”, em polonês) exclamou ele estupefato – e levou as mãos ao rosto. “Por favor”, balbuciou, “o menino... está na missa. Vou busca-lo! Espere, por favor”. Jogou um casaco sobre as costas e, depois de se certificar que eu ia mesmo ficar ali, correu rua abaixo.
Fiquei defronte da casa, cheio de felicidade. Percebi, então, no lado oposto da rua, outro barraco. Pela janela, vi uns rostinhos negros me olhando e pequenas mãos acenando. A porta se abriu timidamente e algumas vozes gritaram: “Papai Noel!”
Aproximei-me e uma mulher me convidou a entrar. Aceitei. Lá dentro havia cinco crianças, com idades de um a sete anos. Falei-lhes de Papai Noel e do espírito de Amor que é o do Natal. Depois, vendo os papéis de embrulho amassados, perguntei se haviam gostado do que Papai Noel lhes trouxera. Todos me agradeceram... as meias de lã, o suéter ou a roupa de baixo mais quente.
“Mas eu não trouxe para vocês nenhum brinquedo?”
Balançaram a cabeça tristemente.
“Cometi um erro!”, afirmei eu.
“Vamos remediar isso.”
Sabendo que tinha mais brinquedos no carro, dei um para cada criança. Elas riram, mortas de felicidade, mas, quando Papai Noel estava pronto para sair, uma garotinha começou a chorar. Inclinei-me e perguntei: “Que foi que aconteceu?”
“Ah, Papai Noel” soluçou ela, é que eu estou tão feliz!”
As lágrimas correram dos meus olhos, por baixo da máscara.
Na rua, ouvi o Sr. Barski gritar: “Panie, panie, prosze!” (“Senhor, senhor, por favor!”)
Peter estava lá, estático, olhando Papai Noel entrar na casa dele.
“Você veio!” exclamou ele maravilhado. “Escrevi... e você veio!”
Poliglota. Quando se recuperou, falei-lhe sobre a solidão e a amizade, e dei-lhe um conjunto de química e uma bola de basquete. Ele me agradeceu louco de alegria. Sua mãe perguntou algo ao marido em polonês. Meus pais eram poloneses e eu falo um pouco da língua, além de compreender muita coisa.
“Do pólo Norte”, respondi em polonês. Ela me olhou surpresa. “Você fala polonês?”
“É claro”, respondi. “Papai Noel fala todas as línguas.” E deixei-os alegres e admirados.
No ano seguinte, quando o movimento de Natal começou a se formar, senti o velho comichão e vi que o Papai Noel que habitava dentro de mim estava de volta. Retornei ao correio e aquelas cartas de cortar o coração.
Fiz minha ronda assim durante 12 anos, ouvindo as lamentações infantis ocultas em envelopes não abertos, respondendo ao chamado de tantas quantas conseguisse, frustrado por não poder responder a todas.
Com o passar do tempo, espalhou-se a história sobre meu Papai Noel, e os fabricantes começaram a mandar-me anúncios de brinquedos. Tendo começado com 20 crianças, já estava com 120, de porta em porta, de uma extremidade de Nova York à outra, da véspera até o dia de Natal.
Na minha última visita, há alguns anos, sabia que em certa casa havia quatro crianças, e cheguei prevenido. Era um lugar pequeno e pobremente mobiliado. As crianças tinham esperado o dia todo, com o telegrama, e repetiam para a mãe, céptica: “Ele vem, mamãe, ele vem.”
Quando a campainha tocou, a porta abriu e todos correram para me apertar a mão. “Papai Noel! Nós sabíamos que você vinha!”
Peguei cada um no colo, contei histórias de alegria, esperança e paciência, e dei a cada criança um brinquedo. Durante o tempo todo, uma quinta criança, uma garota engraçadinha de cabelos louros e olhos azuis, ficou muito quieta num canto.
Virei-me para ela: “Você não faz parte da família, não é?”
Ela balançou a cabeça tristemente e murmurou: “Não.”
“Como é que você se chama?” perguntei.
“Lisa.”
“Quantos anos você tem?”
“Sete.”
“Venha, sente aqui no meu colo.” Ela hesitou, mas veio.
“Você ganhou algum brinquedo no Natal?” perguntei.
“Não”, disse ela. Peguei uma boneca grande e bonita. “Quer esta boneca?” “Não”, disse ela. Inclinou-se e sussurrou no meu ouvido: “Sou judia.”
Cutuquei-a e murmurei: “Eu também sou judeu.”
Lisa abriu um sorriso delicado. Pegou a boneca, apertou-a e correu para fora.
Não sei quem ficou mais feliz, se ela ou se o Papai Noel que vive dentro de mim.
Feliz Natal a todos os meus amigos!

Um comentário:

Anônimo disse...

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