sexta-feira, junho 9

Quanto vale uma idéia

Fonte : Revista Seleções
Data : Fevereeiro de 1978
Autor : Willam D. Ellis

A gente vê um novo empreendimento indo de vento em popa e diz: “Ora essa! Ora essa! Eu já tive essa idéia.”

Numa grande loja de departamentos de Toronto, os clientes viram com espanto dois homens do serviço de vigilância pegarem um ladrão e o arrastarem para o escritório da firma, enquanto ele se debatia e protestava. Uma vez fechada a porta, porém, o “suspeito” foi libertado, com uma pancadinha nas costas. “Bom trabalho! Próxima exibição na seção de esportes dentro de 15 minutos.
O “Gatuno” era contratado – em geral, um ator ( ou atriz ) profissional, ou um estudante de arte dramática. “Tivemos a idéia”, explica Lês Cohen, de 29 anos, diretor da firma Rent A Thief And Sweet Revenge Corp. (Empresa Alugue um Ladrão e Doce Vingança) “quando percebemos que o receio da humilhação pública é o mais forte elemento de dissuasão em furtos de lojas.”
Tais cenas de prisões fictícias dão tão bons resultados que há gerentes de grandes lojas que pagam, satisfeitos, 100 dólares pelo aluguel de um ladrão por uma única atuação. “Não é uma coisa formidável”, explica Lês, sorrindo, “mas dá certo.”
A idéia é insignificante de fato, mas há ideiazinhas assim que resolvem problemas e fornecem trabalho ou novas carreiras a milhares de pessoas. As grandes idéias são excelentes, mas podem exigir capital, tempo e oportunidade para serem postas em prática; já as pequenas podem ter uma validade imediata e não são tão caras. A imaginação criadora é uma característica bastante comum; o que é raro é termos respeito pelas nossas próprias idéias.
Pouco depois de se formar numa faculdade em Nova York, Stephanie Winston notou que muitas pessoas deixavam que suas vidas profissionais se complicassem por causa de relaxamento e hábitos de rotina. Essa gente vivia numa confusão louca de mau planejamento, contas a pagar, mais de um compromisso tomado para a mesma hora. O auxílio de uma secretária de tipo tradicional teria pouco valor. Por que não se estudar, então, a pessoa, seus hábitos de trabalho e suas carências, e depois idealizar um sistema de ordenamento operacional exclusivamente para ela?
Um executivo de empresa que Stephanie conhecia não apenas tinha o escritório em desordem, mas ainda costumava começar um trabalho, pondo-o depois de lado para iniciar outro, que abandonava em seguida por um terceiro. Stephanie começou por delinear um sistema especial de arquivo para ele, convencendo-o a classificar todos os seus projetos por ordem de importância. Sua orientação demonstrou que, durante 18 meses, o dirigente continuou a consulta-la quando surgiam problemas especiais.
Em seguida, ela foi chamada por um psiquiatra muito ocupado, a fim de por em ordem o emaranhado em que se encontrava sua agenda de consultas, e, logo depois, um conhecido autor de artigos para revistas, que nunca conseguia respeitar prazos. Stephanie descobriu que, em dois períodos de oito horas, este nunca se entregava a mais de meia hora seguida de trabalho produtivo. Estabeleceu, então, para ele um plano de trabalho muito rigoroso, dividindo o dia em períodos invioláveis: para escrever, chamadas telefônicas, visitantes, ocupações elementares. Hoje, a idéia simples de Stephanie está transformada em eficiente serviço de consultoria.
Quando se trata de uma grande idéia, hoje em dia, é preciso fazer pesquisas de mercado, pr´-testes e testes posteriores para proteger um vasto investimento; com as pequenas idéias podemos permitir-nos movimentos de intuição.
Mike Garrihy, de Elyria, Ohio, é um piloto jovial, de cabelos ondulados, que gosta de aviões pequenos. Há cinco anos, quando estava fazendo um charter com seu avião, um dos passageiros, banqueiro, explicou-lhe que a necessidade de fazer chegar ao banco de origem os cheques sacados contra este e ainda não compensados representava uma enorme economia se considerado o juro horário sobre bilhões de dólares em cheques emitidos.
Garrihy teve uma idéia: se lhe entregassem esses cheques ao cair da tarde, podia traze-los de volta de avião, para os seus bancos de origem, a tempo de estarem lá na hora de abertura do dia seguinte. Propôs isso à agência do Federal Reserve Bank, em Cleveland, sendo-lhe facultada uma experiência sobre dez cidades. Hoje, Garrhy e outro piloto, Gilbert Singerman, exploram a Midwest Air Charter, Inc., com 37 aviões servindo 37 cidades. Os aparelhos transportam cerca de dez milhões de cheques todas as noites, utilizando o aeroporto de Elyria como ponto central, onde montes de cheques são transferidos e encaminhados para seus destinos.
Por vezes, uma pequena idéia é na verdade um pedacinho de outra maior. De regresso de seu trabalho como publicitário, Joe Davis viu operários substituindo nas ruas velhos lampiões de bronze por outros modernos. “Alguém gostaria de ter esses velhos lampiões”, pensou ele. Na manhã seguinte, com um simples telefonema, comprou os 63 antigos, a cinco dólares cada um. Não teve qualquer dificuldade em vende-los por 35 dólares, mais tarde.
Quando ouviu falar de um lote de velhos lampiões de gás, Joe pediu dinheiro emprestado e comprou 1.365 deles, a 50 dólares cada. Depois, tendo que pagar o empréstimo, deixou o emprego para se ocupar com a venda dos lampiões. Um de seus clientes em perspectiva disse :”Não preciso de lampiões, mas sabe onde posso encontrar cavalos de madeira desses de carrossel?” Outro queria aqueles antigos plafonniers de estanho a fim de fazer um trabalho de restauração. Hoje, Joe e a mulher ( que formaram a firma Finders, Inc. ) possuem uma rendosa empresa que procura em todo canto coisas raras e exóticas que outras pessoas queiram possuir.
Você já ouviu dizer: “Puxa! Basta uma idéia e o ‘cara’ está feito!” O que com freqüência não imaginamos é que aquela foi provavelmente a 15º idéia que ele teve. Tomemos o caso de Ray Kroc, fundador da MacDonald’s. Ele era um vendedor de equipamento para restaurantes, com 52 anos, que tinha experimentado dezenas de empreendimentos, com resultados médios, mas, pelos menos, estava adquirindo prática em por em marcha suas próprias idéias criadoras. Sua concepção da agora famosa cadeia de self-service não era nada de grande nem complicado – extrema ênfase era dada à rapidez, limpeza e economia, assim como à qualidade. Porém, por experiência própria, ele sabia como faze-la funcionar.
Ainda outra idéia fecunda foi concebida por Glenn Matthews, experiente vendedor de livros didáticos que começou a pensar nos pequenos editores que não podiam dar-se ao luxo de ter vendedores próprios. Bons livros estavam dando prejuízo simplesmente por não chegarem aos olhos do público. Ele deixou seu emprego, equipou uma caminhonete para transportar livros e estabeleceu um programa de visitas a universidades. Num só dia, 60 a 100 membros das faculdades podiam examinar esses livros que, de outra maneira, continuariam sendo desconhecidos para eles. Glenn ganhou 11 mil dólares em 1974, seu primeiro ano. Agora tem três livrarias móveis em caminhonetes, que visitam 300 faculdades, com livros de estudo de 250 editores. O volume de vendas aproxima-se dos 750 mil dólares.
É esta a beleza de uma pequena idéia que acaba frutificando em bons resultados. Normalmente é simples, talvez mesmo óbvia, mas, se percebermos que é útil a alguém, há probabilidade de que dê bons resultados.

Nenhum comentário: