terça-feira, fevereiro 13

Dá para acreditar na lei de Murphy?

Fonte : Revista Seleções
Data : Maio de 1998
Autor : Robert A . J. Matthews

Eis a ciência por trás dos pequenos aborrecimentos da vida.

Atrasado para o trabalho, você procura impaciente na gaveta das meias, sem conseguir encontrar um par. Na cozinha, sua torrada escorrega do prato e cai no chão – com o lado da manteiga para baixo, é claro.
Quando finalmente chega à rua, você vê as filas vizinhas de carros seguirem mais depressa.
Infortúnio pessoal? Ou a lei de Murphy, segundo a qual “se algo puder sair errado, sairá?”
Como seria de esperar, cientistas descartam a lei de Murphy considerando-a apenas um produto de nossa memória seletiva, que esquece as vezes em que tudo dá certo. No entanto, usando a Matemática e a Ciência, descobri que muitas das mais famosas manifestações da lei de Murphy se baseiam em fatos.
Interessei-me pela lei de Murphy depois de ler numa revista a descrição do que ocorre quando a torrada cai da mesa. O autor dizia que a torrada quase sempre cai com o lado da manteiga para baixo.
A princípio, pensei que o autor não havia repetido a experiência suficientemente. Entretanto, quando experimentei com um livro, primeiro com a capa para cima, quase sempre caía com a frente para baixo. O comportamento de um livro que cai estava longe de ser aleatório. Na verdade, a velocidade de sua rotação era suficientemente lenta para permitir que o livro (ou a torrada) fizesse uma volta completa e virasse para cima de novo no momento em que tocasse o chão. Resumindo, a torrada cai com o lado da manteiga para baixo.
E os outros exemplos da lei de Murphy? Eis alguns casos em que a ciência apóia a crença popular.

Levar guarda-chuva torna menos provável que chova
Como hoje os meteorologistas declaram precisão de mais de 80% na previsão de chuva em 24 horas, parece óbvio que levar um guarda-chuva ouvindo seus conselhos se revelará acertado quatro vezes em cada cinco. Esse raciocínio, porém, não leva em conta que, se a chuva não for freqüente, a maior parte das previsões corretas – que resultam nessa impressionante porcentagem de 80% - eram previsões de não chover. Isso não chega a impressionar, digamos, em cidades de pouca pluviosidade.
A probabilidade de chover enquanto você está dando uma caminhada de uma hora em geral é reduzida, em grande parte do mundo. Por exemplo, suponhamos que a dita taxa básica de chuva por hora é de 0,1, significando que a probabilidade de chuva durante qualquer hora seja de um para dez. em outras palavras, é dez vezes mais provável que não chova.
A lei das probabilidades mostra que até mesmo uma previsão de chuva 80% correta provavelmente estará errada durante a sua caminhada. Você acabará levando um guarda-chuva desnecessariamente.

A fila a seu lado em geral anda mais depressa
A verdade é: em média, todas as filas de um banco ou supermercado “andam” mais ou menos com a mesma velocidade. Cada qual tem probabilidade de sofrer atrasos ocasionais que ocorrem, por exemplo, quando o operador tem de trocar a fita da caixa registradora.
Em qualquer ocasião, porém, a probabilidade de que a fila escolhida por você sofra menos demoras ocasionais do que as filas vizinhas será de apenas uma em três. Em outras palavras, em dois terços do tempo, a fila da esquerda ou da direita passará à frente da sua.

Meias perderão seus pares rapidamente numa gaveta
A presença de meias descasadas tem sido atribuída a tudo, desde diabretes a buracos negros. No entanto, é possível desvendar o mistério das meias descasadas mesmo sem que se saiba para onde vão.
Imagine que há uma gaveta com apenas pares de meias casadas. Agora suponha que uma delas esteja faltando. Imediatamente, você tem um par descasado. Depois a segunda meia desaparece. Muito provavelmente é de um par completo, criando outra meia descasada na gaveta.
A perda ocasional de meias é sempre mais propensa a criar o maior número possível de meias descasadas. Por exemplo, se você começou com dez pares de meias completos, quando a metade de suas meias estiver faltando, é quatro vezes mais provável que você tenha uma gaveta cheia de meias descasadas do que uma que contenha somente pares completos.

O verdadeiro Murphy
Mesmo antes de ter nome, as pessoas já conheciam a lei de Murphy. Em 1786 o poeta escocês Robert Burnes escrevia: “Os melhores planos de ratos e homens estão predispostos a malograr.”
A versão moderna tem raízes nos estudos que a Força Aérea dos EUA realizou em 1949 acerca dos efeitos da rápida desaceleração sobre pilotos. Voluntários foram presos num trenó movido a foguete e seu estado foi monitorizado enquanto o trenó era parado abruptamente. Eletrodos ligados a um arreio faziam o acompanhamento.
Certo dia, depois do que parecia ter sido experiência impecável, o arreio deixou de registrar os dados. O capitão Edward A . Murphy Jr., um dos engenheiros dos estudos, descobriu que todos os eletrodos tinham sido ligados incorretamente, o que o levou a declarar: “Se houver duas ou mais formas de fazer alguma coisa, e uma delas levar a uma catástrofe, então alguém a fará.”
Mais tarde, a pesarosa observação de Murphy foi apresentada pelos engenheiros do projeto como excelente premissa de trabalho em engenharia de Segurança. Logo se transformou em declaração irreverente sobre a perversidade dos fatos do dia a dia.
De maneira irônica, por perder o controle do sentido original, Murphy tornou-se a primeira vítima de sua própria lei.

Nenhum comentário: