quarta-feira, agosto 29

Quando os pais são ambiciosos demais

Fonte : Revista Seleções
Data : Fevereiro de 1999
Autor : Helmut Zoepfl

Não negue às crianças o direito de desfrutar a infância!

Três mães estão sentadas num banco da pracinha observando os filhos com satisfação. Uma senhora se junta a elas. Depois de algum tempo, uma das mães diz:
“Olhem só a minha filha. Ela reuniu um monte de pedras e está contando. Ouçam! Ela já sabe contar até cem!”
“Grande coisa!”, contesta a segunda mãe. “Olhem só! Meu filho tem 4 anos e meio e sabem o que tem nas mãos? Um livro. Acreditem ou não, o garoto já sabe ler perfeitamente.”
“E o que pensam vocês que meu garoto está fazendo?”, replica a terceira mãe.
“Não está só rabiscando naquele papel, não. Está escrevendo uma pequena redação intitulada ‘Uma tarde agradável no parque.’”
“E então?”, perguntam as três mães à senhora que chegou depois.
“Em sua opinião, qual das crianças é a mais esperta?”
“Crianças?”, contesta a senhora tristemente. “Que crianças? Não estou vendo criança nenhuma!”
Sejamos francos: que pais não estão convencidos de que os filhos possuem dotes excepcionais? Essa confiança na habilidade de suas proles é admirável. Não há nada mais prejudicial, porém, do que estabelecer muito cedo uma rotina intelectual para os filhos.
Nos últimos anos, soluções engenhosas vem surgindo, uma trás da outra. E se os pais não aderem à última moda, acabam se culpando por haver prejudicado as possibilidades de sucesso dos filhos. É o que vem acontecendo, em nome da ‘educação de elite’ e do ‘incentivo às crianças superdotadas’.
A mera definição do termo já é problema. Tanto ‘elite’ quanto ‘superdotado’ não são conceitos cientificamente precisos e aceitos – cada qual entende tais conceitos a seu modo. O termo ‘inteligência’ é ainda pior. No campo da psicologia aplica-se a seguinte definição inespecífica: “Inteligência é aquilo que pode ser medido por meio de um teste de inteligência.” A definição não revela alto grau de inteligência por parte daqueles que desejam criar um programa em torno dela.
Qualquer cientista honesto irá admitir que existem limites à nossa habilidade de medir características humanas e que os métodos dos testes são freqüentemente questionáveis. Além do mais, sabe-se que quanto mais jovem o indivíduo mais difícil é julgar se possui algum talento. São poucos os casos em que é possível prever as habilidades que se desenvolverão mais tarde. São muitos os fatores que atuam no desenvolvimento de um talento: influências genéticas, ritmo individual de desenvolvimento, efeitos do relacionamento social, encontros fortuitos, bem como acontecimentos que possam motivar ou bloquear o desenvolvimento da criança.
Só há um prognóstico seguro: se o estímulo às crianças superdotadas não for tratado com a maior sensibilidade, as conseqüências poderão ser desastrosas. Pais exageradamente ambiciosos são propensos a diagnosticar – de forma errada – os filhos como superdotados. Imediatamente após o nascimento, incentivam desigualmente as habilidades cognitivas da lógica, fala e pensamento, negligenciando o corpo e a alma.
Equipes das escolas maternais continuam reclamando de pais que desejam transformar a escola em laboratório de ensino que inclua treinamento em leitura, escrita e aritmética. Vigiam e questionam cada minuto que o filho esteja ‘simplesmente’ cantando, desenhando ou brincando.

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