segunda-feira, julho 24

Amor feito de pequenas coisas

Fonte : Revista Seleções
Data : Janeiro de 1983
Autor : Judith Viorst

Parece mentira mas é verdade. O casamento ainda vive e está passando bem. Nele ainda há ternura, empatia, alegria.

Elaine e Davi chegaram exaustos ao hotel. Ela tinha tratado pessoalmente de toda a programação, da reserva do quarto e das entradas para o concerto a que eles pretendiam assistir, e durante toda a viagem havia-lhe falado sobre o assunto, contando-lhe como tinha sido difícil coordenar tudo.
E então – horror dos horrores!, - , quando se apresentaram no balcão da portaria, souberam que não havia reserva nenhuma em nome deles! O gerente mostrou a carta que Elaine escrevera e provou que tinha razão.
“Eu havia posto datas erradas”, conta ela, “E, como estava tão preocupada comigo mesma, logo pensei que o Davi ia ficar furioso comigo.”
Em vez disso, ele lhe deu um abraço. “Querida, não se preocupe”, disse ele. “Qualquer pessoa pode se enganar. A gente vai procurar outro lugar qualquer.” E foi aí que eu percebi que me havia casado com uma pessoa que nunca se aproveita do erro do parceiro para aborrece-lo ainda mais. “Lembro-me desse incidente todas as vezes que começo a pensar naquilo que Davi não é. Isso me ajuda a ver que escolhi a pessoa certa.”

Elsa não se lembra mais como a discussão começou, mas tudo aconteceu ainda antes do café da manhã, e, na hora em que Steve devia sair para o trabalho, ainda não tinha acabado.
“Como é que você pode ir embora assim, se ainda não ficou nada resolvido?” exclamou Elsa.
Aí, Steve fez algo que poucos homens ambiciosos e trabalhadores fariam: telefonou para o escritório e cancelou todos os compromissos que tinha marcado para aquele dia...
Segundo Elsa, “para mim, isso significou que nosso relacionamento era muito mais importante que as reuniões de negócios; significou que eu me havia casado com um homem que colocava nossa relação à frente do trabalho”.

Maria tinha a doença de Hodgkin, e, devido aos tratamentos, estava temporariamente com a pele queimada e sem cabelos. Seu noivo, porem, insistiu em que o casamento se efetuasse em agosto, conforme o previsto. “Você pode morrer, eu posso morrer, isso não muda nada! É só uma questão de termos a coisa sempre presente, nada mais.”
Segundo ela, “Esse homem, meu noivo, é capaz de me encarar, até hoje, como uma pessoa inteira. Quando ele jurou que me ia ser fiel na doença e na saúde, me ia honrar e me amar durante toda a vida, chorei, sabendo que durante a vida inteira eu própria teria de aprender o significado dessa aceitação.”

Pouco depois do sexto aniversário de casamento de Angi e Davi, a casa deles foi destruída por um incêndio. A primeira coisa que Angi fez, quando lhe foi permitido remexer nas ruínas calcinadas, foi procurar seu álbum de fotografias. Foi então contar ao marido que as fotos estavam a salvo, e encontrou-o colocando cuidadosamente dentro de uma caixa uns pedaços chamuscados de papel – as cartas de amor que ambos haviam trocado.
“Quando eu o vi ajoelhado no meio das cinzas”, diz ela, “senti-me tomada pela certeza de que havíamos sido feitos um para o outro. Nesse momento, durante a maior tragédia de nossas vidas, nossos pensamentos dirigiam-se para a perda das coisas que nos eram mais caras, não materialmente. Ajoelhei-me também para ajuda-lo, com a certeza de que não havíamos perdido nada de importante, afinal de contas.”

Harvey tivera durante a vida inteira uma paixão: escalar uma montanha. Um belo dia foi faze-lo, e levou uma queda séria. Sua mulher, quando vieram avisa-la do acidente e de que ele poderia estar morto, perguntou apenas: “Ele caiu subindo ou descendo?”
Semanas mais tarde, quando estava melhor, Harvey soube dessa pergunta dela. “Fiquei comovidíssimo”, afirma ele. “Embora sem saber se havia enviuvado ou não, ela me amava tanto que quis saber se eu havia conseguido o que queria. Nunca me esquecerei do amor que senti então por ela e do orgulho pela sua coragem.”

Roberto estava sentado num sofá que Helena havia recentemente estofado de novo. Estava olhando pensativamente a chuva que caía sobre o jardim. Falava sobre a falta de sentido que a vida tinha, e as cinzas do seu cigarro fizeram um buraco no lindo estofado novo.
Parecia o símbolo perfeito da desesperança total – conta ele. Helena, porem, foi buscar agulha e linha e bordou uma flor colorida em cima do buraco.
“Aí eu entendi”, afirma Roberto, “que minha mulher era uma pessoa que sempre me ampararia.” Ele se havia casado com uma criatura que consertaria os danos, taparia os defeitos... dos sofás e da alma.

Não se pode negar que algumas das nossas recordações mais queridas são aquelas que temos de atos pequenos e simples – momentos de entendimento matrimonial que são quase impossíveis de explicar. Como o caso do marido a quem proibiram de estar presente na hora em que a sua mulher – que se sentia apavorada – estivesse dando à luz a um filho. Ele se disfarçou de servente do hospital e conseguiu entrar na sala de parto. Há também aquele do marido que, sem a mulher perceber, substituiu o peixinho morto do aquário por outro parecido. E ainda o marido que, por ter ouvido sua mulher falar em bolo de creme, em sonhos, saiu logo de manhã de casa e foi correndo comprar um.
Outro fato, o do marido que socorreu sua esposa durante um incidente com um bolo de chocolate.
Foi assim: June deveria levar uma sobremesa pra um jantar em casa de amigos, onde cada pessoa levaria um prato. Resolveu fazer um bolo de chocolate, mas que não saiu tão bom quanto seria de desejar. O bolo foi colocado na mesa junto com outras sobremesas. June ofereceu ao marido uma fatia e, pela expressão dele, percebeu logo que aquilo estava péssimo.
Ele, porem, pegou o bolo e, declarando a todos os presentes que aquela era a sua sobremesa favorita, mesmo havendo diversos outros doces na mesa, avisou que ia comer inteiro todo aquele. “Depois sentou-se a um canto”, conta June com carinho, “e corajosamente comeu todinho o bolo, para que ninguém percebesse como estava ruim.” June acha que homem ideal é aquele que a ajuda em casos de emergência. O gesto galante de Mac, segundo ela, “foi a confirmação de que me casara com um homem que sempre me protegeria.”

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