quinta-feira, julho 13

O intrépido e engraçado Bassê

Fonte : Revista Seleções
Data : Maio de 1984
Autor : Wofgang Feucht

Astuto, inteligente, corajoso, este animalzinho conquista corações

Lumpi havia acabado de completar um ano de idade quando começou a levar sua dona à loucura. Sempre que ela enchia a banheira, o peludo diabinho pulava dentro dela e transformava-se num golfinho que latia furiosamente, jogando água para todo lado. Num instante transformava o chão do banheiro num lago. Lumpi sempre arranjava um jeito de entrar no banheiro no momento errado.
Nenhuma outra raça canina teria travado esta divertida “guerra de banheira” com tanta perseverança e endiabrada esperteza; e nenhum outro cachorro teria sido tão obstinadamente encantador, pois eles são mestres em misturar palhaçadas com ternura.
O estranho formato do bassê alemão ( Dachshund – lê-se “dáks-rund”) é sua característica mais encantadora: um corpo comprido que anda sobre pernas ridiculamente curtas e atarracadas. Não admira que cerca de meio milhão de cães dessa raça viva nos lares da Alemanha, tantos quanto o pastor alemão, o outro cão preferido nesse país.
Por causa dessa atração, o bassê já criou fama como modelo de publicidade e símbolo de bom humor. Trata-se, na verdade, do animal heráldico extra-oficial da Alemanha, tendo atingido o ápice da fama em 1972, quando tornou-se mascote dos Jogos Olímpicos de Munique.
O bassê, porém, é mais do que um atraente palhaço. Por natureza, é um caçador implacável. Pesando entre 3kg e 9kg, eles desconhecem o medo e ( como verdadeiros Davis dos tempos modernos ) enfrentam até javalis adultos, importunando-os com suas mandíbulas até que o dono chegue para um tiro certeiro.
Há poucos anos seu intrépido coração de lutador foi o traço dominante da personalidade de um vigoroso cachorrinho dessa raça, chamado Zwacki. Levado de trem de Munique, para um teste de comportamento na floresta de Ebersberg, o bassê logo farejou caça. Sentindo o cheiro de rastro fresco, Zwacki perdeu totalmente o auto-controle, disparou como uma flecha, do pinheiral onde se encontrava, e desapareceu na floresta.
A área logo se encheu com os assobios e gritos dos caçadores, que também avisaram as pessoas das propriedades das redondezas para procurarem o cão: mas Zwacki não foi encontrado em parte alguma, nem apareceu para o teste de pista do dia seguinte. Eugen Hesse, o seu dono, desconsolado, ia tomar o trem para a viagem de volta, quando sentiu alguma coisa se esfregando na sua perna direita: era Zwacki, abanando alegremente a cauda. Durante mais de 24 horas ele percorrera os bosques e, por fim, achara o caminho de volta à estação, a 6km da reserva de caça. No dia anterior fora levado para lá de carro!
A extraordinária proeza de orientação de Zwacki nunca foi explicada totalmente. Talvez, no dia da sua chegada, o cérebro do animalzinho tivesse armazenado uma “imagem olfativa” da estação e, com o aguçado nariz de um cão de caça, conseguiu achar o caminho de volta àquele ponto inicial.
Transformar um bassê num caçador de primeira leva uns três anos, e, durante os três seguintes, ele está no auge. Excelente forma física é do que ele mais precisa para descobrir uma toca de raposa, onde encontrará uma antagonista à altura, em matéria de inteligência e rapidez de reação.
O clube de criadores de bassês cavou simulacros de tocas de raposa, de onde o noviço tem de aprender a desalojar uma, mas domesticada, que de início apenas ficará fitando o adversário com ar mal-encarado. Mas se o intruso a azucrinar a menos de 50cm, a raposa muda de tática repentinamente. Mostrando as presas ameaçadoramente, ela investe ferozmente contra o invasor, que deve aprender a escapar das suas mandíbulas.
Estas contendas de treinamento na toca da raposa duram por vezes mais de 10 minutos, com ela fingindo vez por outra bater em retirada, apenas para rosnar na direção do inimigo numa curva mais adiante. Desta maneira, o recruta é levado a pressionar os ataques com ousadia cada vez maior, de modo que não mostre nenhum medo quando tiver de enfrentar o bicho de verdade.
Ele tampouco vacilará em correr atrás do texugo ( Dachs, em alemão), do qual deriva seu nome. Um texugo, porém, pode perfeitamente ser o cruel coveiro do Dachshund: se o cachorro entrar num beco errado da toca do texugo, este rapidamente bloqueia a entrada, e seu perseguidor morre sufocado, a menos que o dono o dono o salve a tempo.
A raça bassê data do século XVI, quando a caça de animais de toca se tornou moda, e os cachorros de pernas curtas eram, por isso, muito procurados. O moderno bassê apresenta-se em três tamanhos: além da variedade comum, há o anão, de 4,5kg, e o Dahshund coelho, de 3kg. Este último é especializado em entrar em estreitas tocas de coelhos, e também possui o mais importante atributo de um bom caçador: pode assediar uma toca, independentemente da ordem do seu dono, o que exige justamente o traço de obstinação que por vezes torna esta raça difícil.
Não que um bassê não possa ser ensinado a portar-se bem, mas é preciso grande dose de paciência e força de vontade para transformar o inimigo de raposas e texugos num cão urbano bem educado, que trote com decoro atrás do seu dono ou dona. Neste papel civilizado, o bassê tem estado no auge da moda nestes últimos 100 anos. A raça é estimada como de vigilantes cães de guarda, como cães de companhia e como cães de caça fácil de tratar.
O treinamento destes baixinhos encontra-se em grande parte nas mãos de criadores amadores. Diz Kurt Kircher, do Clube 1888 de Dachshnds, da Alemanha, em Duisburg: “calculo que uns 50 mil cães nasçam anualmente na Republica Federal, chegando cada exemplar a alcançar de 300 a 500 marcos.” Isso significa que os fãs do bassê alemão estão disposto a gastar de 15 milhões a 25 milhões de marcos pelas ninhadas anuais. Esse cão de endiabrado encanto não fez sucesso apenas na Europa; é encontrado mesmo em regiões remotas da América Central e do Extremo Oriente.
O único ponto fraco de um Dachshund puro é sua espinha alongada. Isso o torna propenso à doença que leva seu nome: paralisia Dachshund. Este termo genérico compreende ainda problemas reumáticos, bem como hérnias de disco. Basicamente, contudo, o Dahshund alemão é um robusto companheiro e, se preciso for, enfrenta até um tigre.
Isso foi provado por Anja von Edertal, uma fêmea de pelo curto. Quando a mãe de um filhote de tigre siberiano, do Circo Barum, se recusou a amamentar seu bebê e até ficou agressiva para com ele, o diretor do circo, Gerd Siemoneit-Barum, decidiu mandar buscar uma ama-de-leite canina. Depois de lançado um apelo urgente pelo rádio, veio uma chamada de um criador de Dahshunds, Gerhard Specht, dono de Anja von Edertal, que acabara de dar à luz uma ninhada.
Anja revelou-se uma mãe-modelo para o pequeno Olaf. Ela lambeu solicitamente aquele monte de pelo rajado, e prontamente aceitou o tigre. Formou-se um duradouro laço entre o felino e sua diminuta mãe adotiva.
Hoje, Olaf é um tigre adulto e uma das atrações do Circo Barum. Mas nunca se exibe com outros tigrões, pois não há nada que mais tema do que tigres. Por outro lado, qualquer cão perdido que descubra interessa-o vivamente. Diz Gerd Siemoneit-Barun: “Olaf sempre se considerará um Dachhund.”
O coração da mãe Dachhund conquistou para sempre a alma do tigre.

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