sexta-feira, julho 7

Uma rosa para Caroline

Fonte : Revista Seleções
Data : Maio de 1984
Autor : Arthur Gordon

Tudo indicava que aquela mulher desprezada tinha um admirador. Quem seria?

Todos os sábados à noite, durante aquela modorrenta primavera, eu ia levar uma rosa a Miss Caroline Wellford; todos os sábados, às 20:00 em ponto, chovesse ou fizesse sol.
Era sempre a rosa mais bela da loja. Eu ficava observando o velho Olsen, enquanto ele, carinhosamente a arrumava sobre o papel de seda verde e a folhagem. Em seguida, pegava na caixa e pedalava pelas ruas quase desertas, até chegar à casa de Miss Caroline. Naquela época, trabalhava fazendo recados para Olsen, o florista; só ganhava três dólares por semana, mas isso, nessa época, era muito dinheiro para um adolescente.
Sempre achei que aquelas rosas estavam envoltas em certo mistério... ou melhor, as circunstâncias é que eram meio estranhas. Na noite em que fui levar a primeira rosa, fiz notar ao Sr. Olsen que se esquecera do cartão. Por detrás dos óculos, ele lançou-me um olhar bonacheirão e respondeu: “Não há cartão, James.” Nunca me chamava Jimmy. “Além disso, a ... pessoa que envia a flor quer que tudo se passe o mais discretamente possível. Portanto, bico calado, está bem?”
Eu estava satisfeito por Miss Caroline receber uma rosa, porque tinha pena dela. Como todo mundo sabia na nossa cidadezinha, acontecera-lhe a pior coisa que pode suceder a uma pessoa: fora preterida por outra.
Durante vários anos, Miss Caroline esteve praticamente noiva de Jeffrey Penniman, um dos mais cobiçados rapazes solteiros da cidade. Tinha esperado que ele terminasse o curso de medicina. Continuava esperando quando, já formado, o Dr. Penniman se apaixonou por uma moça mais jovem e mais bonita e se casou com ela.
Foi quase um escândalo. Minha mãe disse que todos os homens eram uns sem-vergonhas e que Jeffrey Penniman merecia uma boa surra. Meu pai, pelo contrário, achou que todos os homens tinha o direito de casar com a mais bela moça que os quisesse.
A moça que Jeffrey Penniman desposou era, de fato, uma beldade. Chamava-se Christine Marlow e viera de uma grande cidade. Não deve ter-se sentido muito bem na nossa, pois, como era de se esperar, todas as mulheres a desprezavam e diziam coisas pouco simpáticas a seu respeito.
Quanto à pobre Miss Caroline, as conseqüências foram desastrosas. Fechou-se em casa durante seis meses, abandonou o cargo de guia das escoteiras e todas as atividades cívicas. Até deixou de tocar órgão na igreja.
Miss Caroline não era velha nem feia, mas estava firmemente decidida a tornar-se uma solteirona excêntrica. Parecia um fantasma, na noite em que lhe entreguei a primeira rosa. “Ola Jimmy”, disse ela distraidamente. Quando lhe dei a caixa, pareceu surpreendida... “Para mim?”
No sábado, exatamente à mesma hora, fui levar-lhe a segunda rosa... e mais outra na semana seguinte. À terceira vez, abriu a porta tão prontamente que já devia estar à espera. Havia um leve rubor no seu rosto, e já não se achava tão desgrenhada.
No domingo a seguir à minha quarta visita, Miss Caroline voltou a tocar órgão na igreja. Vi que trazia a rosa ao peito; mantinha a cabeça bem erguida e nem uma única vez olhou para o banco onde estava o Dr. Penniman com a sua linda esposa. Que coragem, murmurou minha mãe, que caráter!
Continuei levando-lhe uma rosa todas as semanas, e, gradualmente, Miss Caroline retomou a vida normal. Notava-se nela certo orgulho, quase um desafio, a atitude de uma mulher que, tendo aparentemente sofrido uma derrota, sabe, lá no íntimo, que continua sendo acarinhada e amada.
Chegou, por fim, a noite em que fiz a última viagem a casa de Miss Caroline. Ao entregar-lhe a caixa, disse-lhe: “É a ultima vez que lhe trago isto. Miss Caroline. Minha família vai mudar-se para outra cidade na semana que vem, mas o Sr. Olsen diz que vai continuar enviando-lhe as flores.”
Ela hesitou um momento e depois disse: “Entre um minuto, Jimmy.”
Levou-me à sala de estar, impecavelmente arrumada, e pegou um barquinho a vela, primorosamente trabalhado, que estava em cima da lareira. “Era do meu avô”, disse-me. “Gostaria que ficasse com ele. Você me trouxe uma grande felicidade, Jimmy... você e suas rosas.”
Abriu a caixa e afagou as pétalas delicadas. “Dizem tantas coisas, apesar de silenciosas. Falam de outras noites de sábado, mais felizes. Dizem que ele também está só...” Mordeu o lábio, como se tivesse falado demais. “É melhor você ir andando, Jimmy. Vá!”
Peguei no barco e corri para a bicicleta. Quando cheguei à loja, fiz o que nunca me atrevera a fazer. Procurei no arquivo onde o Sr. Olsen guardava as suas fichas e encontrei o que queria. “Penniman”, estava escrito na letra quase ilegível do Sr. Olsen. “Cinqüenta e duas. ‘Belezas americanas’ – 25 centavos. Total : 13 dólares. Pago adiantado.”
Então é isso?! Pensei para comigo.
Os anos passaram e, um dia, voltei à loja do velho Olsen. Estava tudo na mesma. Ele confeccionava um buquê de gardênias, como os que fazia em outros tempos.
Conversamos um pouco e, a certa altura, perguntei-lhe: “Que aconteceu a Miss Caroline? Lembra-se... a que recebia rosas.”
“Miss Caroline? É verdade, casou-se com George Halsey, o dono da farmácia. Bom rapaz: tem gêmeos.”
“Ah!” exclamei, um pouco admirado. Resolvi, então, revelar ao Sr. Olsen a minha astúcia, e perguntei-lhe: “Acha que a Sra. Christine Penniman sabia que o marido enviara rosas à antiga namorada?”
O Sr. Olsen suspirou. “James, você nunca foi muito perspicaz. Não foi Jeffrey Penniman quem as enviou. Ele nem sabia de tal coisa.”
Fiquei olhando boquiaberto. “Então, quem foi?”
“Uma senhora”, respondeu Olsen. Meteu as gardênias cuidadosamente numa caixa. “Uma senhora que disse que não ia deixar que Miss Caroline se martirizasse e estragasse a vida. Foi Christine Penniman quem enviou as rosas.”

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