terça-feira, maio 22

Quatro dicas para quem leva o carro ao mecânico

Fonte : Revista Seleções
Data : Outubro de 1998
Autor : Carlos Tautz

Simples procedimentos para colocar você a salvo de mecânicos desonestos.

Ninguém mais acredita que o defeito na rebimboca da parafuseta, peça imaginária que durante anos personificou a ignorância popular no ‘quesito mecânica de automóveis’, seja motivo para o carro enguiçar. Mas eu sofri na pele até aprender isso.
Meu aprendizado em achar uma oficina competente começou depois que um ônibus atingiu em cheio a lateral do meu Uno Mille sem seguro. No dia seguinte, lá estava eu em peregrinação por oficinas mecânicas, atrás do menor orçamento.
Aos olhos de amigos, tornei-me espécie de doutor em “como-não-ser-passado-para-trás-por-mecânicos-e-lanterneiros-desonestos”. Descobri que, de acordo com a Associação Brasileira de Reparadores Independentes de Veículos (Abriv), que abriga sindicatos e associações de donos de oficinas mecânicas, dos 3 bilhões de reais que os brasileiros gastam por ano em consertos de automóveis, entre 600 milhões e 1,8 bilhões de reais são reparos fraudados ou mal-feitos – mais de 50% do total. E embora a maioria dos 1,2 milhão de mecânicos das 172 mil oficinas do país faça trabalhos adequados, há motivos para preocupação.
Interessei-me tanto pelo assunto que somei minhas emoções de consumidor em busca de bons serviços às de jornalista em busca de boas informações. E aqui estão as quatro dicas que aprendi para quem leva o carro ao conserto:

Conserte, não troque
1 – Um erro (ou truque) muito comum é quando simples conserto pode recuperar a peça gasta, mas o mecânico sugere a completa substituição. É o que aponta a engenheira Valéria Said de Barros Pimentel, do Laboratório de Máquinas Térmicas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Todos os carros podem superaquecer-se. Mas nos que ainda tem carburador, o superaquecimento pode empenar a base da peça, o que impediria seu assentamento correto”, diz Valéria, que na universidade ministra cursos de mecânica básica para leigos. “Se o profissional lixar a base do carburador, a peça poderá readquirir o contorno adequado”, ensina a engenheira. “Resolve-se isso com uma lixadinha de 40 minutos e um ajuste no pé do carburador, porém muitas oficinas recomendam a troca por inteiro”, alerta.
A mão-de-obra, nesse caso, não custa mais do que 40 reais a hora, enquanto com um carburador novo o orçamento sobe, em São Paulo, para 350 reais ou mais.
É também o caso dos bicos do sistema de injeção eletrônica. Em oficinas de confiança, um entupimento pode ser resolvido com meia hora de dedicação do mecânico, enquanto outros profissionais recomendam logo a troca. O preço? Varia de 20 a 30 reais para a limpeza de cada bico e até 315 reais por peça nova, além da mão-de-obra para instalação.
Queixa freqüente a respeito das concessionárias é o conserto ou troca de peças que nem sequer estão defeituosas. O profissional diz, por exemplo, que o sistema de injeção eletrônica funciona bem, mas pode quebrar a qualquer momento. “Não se deve sair por aí trocando peças. Faça um diagnóstico do seu veículo”, recomenda Valéria. Na UFRJ, ela participa do laboratório da oficina-escola, que cobra 70 reais para analisar mais de 180 itens e fazer uma lista de peças e serviços de que eventualmente seu carro necessita.
Alguns sistemas de peças, como a correia do motor e o controle do nível do óleo, realmente precisam de troca ou manutenção antes que apresentem algum risco para o carro. Entretanto, em muitos casos o sistema de aviso do carro – luzes de cores vermelha, amarela e verde distribuídas pelo painel – vai alertar você a tempo. É o caso da bateria. Se o marcador, geralmente de cor vermelha, permanecer aceso após o carro estar funcionando, cuidado. É sinal de que ela necessita de no mínimo uma carga, que pode ser dada em qualquer oficina especializada na parte elétrica dos automóveis. Essa carga pode adiar por muitos meses a troca definitiva da bateria.

Peça um orçamento por escrito e ‘agarre-se’ a ele
2 – Um mecânico de confiança provavelmente não faria com um conhecido a seguinte malandragem: você leva seu carro à oficina para trocar uma peça e recebe um orçamento verbal. Na hora de apanhar o carro, o mecânico informa que no momento do conserto percebeu que novas peças deveriam também ser trocadas. E o orçamento inicial – claro – acaba subindo muito. “É o caso da troca de radiador, que em média custa 100 reais”, explica Valéria. “Quando apresentam a conta, alguns mecânicos embutem no preço a substituição das mangueiras, que custam em média de 40 a 50 reais.”
Contra essas e outras fraudes, a melhor proteção é um orçamento por escrito, com o nome e o CGC da oficina. “Depois, se você não se sentir satisfeito, pode até reclamar na Justiça”, ensina Luiz Antonio Bragatto, superintendente do Instituto de Qualidade Automotiva (IQA), que estuda os serviços mecânicos e certifica processos de reparo.
Se tiver dúvidas sobre o diagnóstico – e até leigos podem ver se a oficina está equipada -, procure uma segunda opinião. Além disso, diga ao mecânico que gostaria de, após a troca, levar para casa a peça danificada.
Embora seja difícil para o leigo perceber a diferença entre a peça quebrada e a nova, só o fato de questionar indica ao mecânico que você não é um consumidor qualquer.
O orçamento por escrito é a garantia de que o serviço será feito da maneira estabelecida pelo mecânico. Se faltar alguma peça ou se o conserto for mal feito, o orçamento servirá como prova de má fé ou da incompetência do profissional – e também para embasar possível ação judicial.

Conheça seu mecânico
3 . Geralmente as relações pessoais aumentam as chances de você conseguir bom serviço. “Mecânico que põe a mão no carro da gente deve ser como o médico da família: de confiança. Dificilmente uma pessoa em que confiamos vai dar o mesmo diagnóstico de alguém que fez um orçamento inadequado”, ensina Geraldo Santo Mauro, presidente da Abriv.
Mecânicos certificados pela Excelência em Serviços Automotivos (ASE) – entidade americana que desde 1996 tem filial no Brasil – são opção de profissionais com referências técnicas. Eles passam por uma espécie de “vestibular para mecânicos”, que os credencia em seis áreas de especialização: mecânica de motor, sistema elétrico/eletrônico, freio, funilaria/lanternagem, pintura e motor diesel.
No entanto, verifique se a oficina que você procurou tem mecânicos certificados na especialidade necessária para reparar seu automóvel. Nas oficinas mais modernas e organizadas, é fácil fazer essa verificação. Os próprios mecânicos terão orgulho em exibir os certificados, que deverão estar fixados em local visível aos clientes.
Não espere encontrar bons serviços apenas na rede autorizada. Há poucos anos, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – órgão do Ministério da Justiça que zela pela competição justa entre as empresas - teve de obrigar conhecido fabricante de automóveis a fornecer o manual do proprietário a oficinas independentes, que cobravam preços menores do que os serviços autorizados.
“Sem o manual ficava quase impossível fazer alguns serviços”, lembra Geraldo, que na Abriv responde gratuitamente a 6 mil ligações de consumidores e de mecânicos todos os meses. Para mecânicos, só a primeira consulta é gratuita, mas para consumidores o serviço é ilimitado. “Se uma oficina independente dispuser de equipamentos adequados, pode-se obter um orçamento mais atraente”, assegura ele.
As oficinas autorizadas tem uma série de custos próprios – que não se repetem na rede independente – e que terminam por aumentar o preço do serviço. Vale lembrar que em geral a qualidade do serviço é a mesma.

Faça a garantia valer
4 – Nunca se esqueça de que os zero-quilômetro tem todos os itens – da porta que não se fecha direito ate o motor que não pega – garantidos pelo fabricante, em prazo que quase sempre alcança um ano após a compra. Esse é um direito em todo o território nacional e está assegurado pelo Código de Defesa e Proteção do Consumidor.
Se na concessionária disserem que o defeito não está coberto pela garantia, entre em contato imediatamente com o gerente da revendedora antes de dar sinal verde para o reparo.
“Falhas em diagnósticos, embora possam ocorrer, são fatos isolados em nossa rede de concessionárias”, garante Cláudio José Oliani, supervisor da Central de Satisfação do Cliente Volkswagen, o fabricante do Gol, líder de vendas no Brasil.
“Mecânicos desonestos não enganam qualquer um. Se os clientes fizerem o dever de casa de todo consumidor, essa possibilidade cai muito”, diz Luiz Antonio.

Meu Uno Mille? Finalmente foi consertado na oficina de um amigo. Paguei 300 reais – quase seis vezes menos do que o menor preço que eu havia conseguido nas concessionárias onde também fiz orçamento. É claro que desconfiei da disparidade no preço.
No entanto, depois de examinar outros automóveis sendo consertados na oficina de meu amigo, mandei fazer o serviço e não tenho do que me queixar.
Mas decidi fazer o seguro do carro.

Você pode entrar em contato com a Abriv pelo telefone 0800-55-4477.

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