sexta-feira, setembro 8

Cade tempo?

Fonte : Revista Seleções
Data : Novembro de 1979
Autor : Erma Bombeck

Eu ia, mas...

O tempo. Ele pesa para os entediados, passa a perna nos atarefados, voa para os jovens e, para os velhos, foge.
Tempo. Precisamos de tempo. Amaldiçoamos o tempo. Matamos o tempo. Usamos mal o tempo. O tempo é um amigo ou inimigo?
Sabemos muito pouco sobre ele. Para chegar a conhece-lo, para apreender seu potencial, o melhor seria considera-lo através de um filme chamado recordação.

Quando eu era pequena, mamãe ia ler uma história para mim e eu ia ficar virando as páginas, fazendo de conta que sabia ler; mas ela tinha de encerar o banheiro e não deu tempo.
Quando eu era pequena, papai ia me ver representar uma peça no colégio, mas o carro estava na oficina para ser regulado e não deu tempo.
Quando eu era pequena, vovó e vovô vinham passar o Natal conosco para verem minha cara quando eu ganhasse minha primeira bicicleta, mas vovó não sabia a quem pedir para dar comida aos cachorros e vovô não gostava de frio e, além disso, eles não tinham tempo.
Quando eu era um pouco mais velha, papai e eu íamos passar um fim de semana pescando, só nós dois, íamos armar uma barraca e fritar os peixes com cabeça e tudo; mas no último minuto ele teve de estrumar o jardim e não deu tempo.
Quando eu era um pouco mais velha, a família inteira estava sempre pretendendo posar para uma fotografia que seria nosso cartão de Natal, mas meu irmão tinha treino no futebol, minha irmã estava com o cabelo enrolado, papai estava assistindo ao programa de esportes na televisão e mamãe tinha de limpar a cozinha. Não deu tempo.
Quando cresci e saí de casa pra casar, ia ter uma conversa com papai e mamãe, dizer a eles quanto eu os amava e quanto ia sentir falta deles, mas Hank ( que era o “diretor” de nossa festa de casamento e um cara muito legal ) estava buzinando na frente de casa e... cadê tempo?

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