sábado, setembro 23

Um brinde aos brindes

Fonte : Revista Seleções
Data : Novembro de 1985
Autor : Larry Collins

Skoal! Dizem os noruegueses.
Prosit! Respondem os austríacos. Num pub inglês ou num bar canadense, o que se ouve é Cheers!, enquanto na França se desejaria Santé! E na Espanha, Salud!
Seja como foir, trata-se de um brinde. Todas as terras tem o seu, assim como todas as ocasiões especiais, as suas fórmulas. Por exemplo, um para a longevidade. “Que você viva tanto quanto queira e queira o tempo todo que viver...” Esse outro é irlandês, e não deixa de ser também uma benção marota: “Que você possa estar no céu meia hora antes que o diabo perceba que você morreu.”
Seja constituído por uma só palavra ou se trate de um discurso de 20 minutos, o brinde é, em geral, a expressão de um desejo favorável, e sua história fascinante é contada em detalhe no livro Toasts, de Paul Dickson.
Por exemplo, segundo a tradição, um dos primeiros brindes registrados na língua inglesa foi o levantado, em meados do século V, por Rowena, filha de um chefe saxão, ao soberano britânico Vortigern: “Lauerd King was hael!” (qualquer coisa como “A saúde do rei!”)
O costume dos brindes, porém, já viria provavelmente da Antiguidade. Os hebreus, em cujo ritual o vinho tinha papel de relevo, erguiam suas taças dizendo Lekayyim! (“À vida!”)
A palavra inglesa para “brinde” (toast) data do século XVII, quando era hábito adicionar ao vinho especiarias ou pão torrado (toasted bread), para enriquecer seu gosto e sua sustância*.
Na Inglaterra do século XVIII, era considerado de mau tom levantar um copo de bebida sem desejar saúde a alguém. Foi assim que brindar popularizou-se como desculpa para ingerir álcool.
Muitos hábitos relativos aos brindes são coisa muito antiga. Por exemplo, ainda brindamos com a mão direita e de braço esticado, para mostrar que não temos armas escondidas. Quanto ao tinir dos copos, é provavelmente um costume que vem da Idade Média. Segundo Dickson, tratar-se-ia de “um gesto para expulsar o demônio, que se sente repelido pelo som dos sinos.”
Na Grã-Bretanha, os brindes ao soberano são sempre feitos de pé exceto quando se trate de camarotes de embarcações. Razão: Carlos II partiu a cabeça num teto baixo ao se levantar para responder a um brinde num navio. Com Guilherme IV, herdeiro do trono, aconteceu exatamente o mesmo, e, daí em diante, a Royal Navy resolveu alterar a etiqueta.
Ser convidado a brindar é tão honroso quanto ser o próprio homenageado. Se a coisa acontece de repente, o melhor é ser-se breve: “Ao Antonio, grande amigo. Deus o abençoe!”
Mas isso não impede que você se prepare de antemão para fazer bonito na hora. Eis alguns exemplos, para estimular a sua criatividade em ocasiões futuras:

· Que o dia mais triste do seu futuro não seja senão o mais feliz do seu passado.
· Que a necessidade ande sempre lá bem atrás de nós.
· Aos nossos grandes amigos, que conhecem o que temos de pior, mas se recusam a acreditar.
Brincar em geral exige um pouco de floreado. Tentar lisonjear, sem contanto cair no ridículo, vale. Quanto ao humor, às vezes pode parecer incorreto, embora caia bem, por exemplo, em festas ou aniversários de casamento.
Seja como for, é difícil bater, em matéria de simpatia, o brinde feito por Tiny Tim em A Christmas Carol, de Charles Dickens: “God bless us every one!” (Deus nos abençoe a cada um de nós!”)

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