quarta-feira, setembro 27

Nem com jeito vai

Fonte : Revista Seleções
Data : Novembro de 1980
Autora : Lorraine Collins

Eu tinha justinho acabado de chegar de uma deliciosa sessão de exercícios na lavanderia, quando dei com o meu marido, Bob, sonolento, sentado à frente da televisão.
- você está vendo aí o que? – perguntei meio irritada.
- Televisão.
- Sei. E está a fim de fazer o quê, quando acabar de ver?
- A fim do que?
- É! Que é que você quer fazer?
- Que é que eu quero fazer?
- Droga! Vira a cabeça para cá! Fala comigo agora!
- Estou falando- respondeu ele.
- Olha aí, eu acho que era uma boa para o nosso casamento se a gente batesse uns papos construtivos às vezes – disse eu.
Para espanto meu, ele reagiu dizendo:
- É isso aí! – e desligou a TV.
Então ficamos assim, no lúgubre silêncio da sala de visitas de uma tarde de sábado.
- Bom – começou Bob – sobre o que é que você quer falar?
- Eu só queria saber o que é que você estava querendo fazer – gaguejei.
- Fácil – disse ele – O que eu estava querendo era ver televisão.
- Sem brincadeira, puxa! – pedi.
Então ele:
- Se você está a fim de transar uma séria, a gente podia falar da nossa conta bancária.
- Bom, deixe para lá! – respondi.
- Outra coisa (pode não ser lá muito sério), mas eu também queria lhe perguntar o que foi que aconteceu com a minha máquina de barbear. Está fazendo um barulho dos diabos e eu acho que não está mais funcionando direito.
- Isso é melhor você saber do seu filho – respondi.
- Do meu filho? Mas ele não tem barba?!
- Bom, depende da coisa que ele esteja barbeando... – disse eu.
- E eu quero lá saber o que ele barbeia?
- Pode ser – disse eu. – De qualquer modo você vai saber pelo Sr. Petersen.
- O Sr. Petersen? Não é aquele que tem um são Bernardo?
- É esse – respondi – o São Bernardo que vai ter de usar o seu pulôver este outono. Bom, tudo isso pode ser interessante, mas não me parece uma conversa muito construtiva.
- Não sei porque – disse Bob – Afinal a gente tocou em todos os pontos de interesse comum.
- Querido – disse eu – acho que a gente devia era discutir o nosso futuro. Aonde vamos...
- Aonde vamos? Tudo indica que à falência.
Sei quando o melhor é desistir.
- Amor – disse eu – por que é que você não vai ver televisão, hein?

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