quinta-feira, dezembro 14

Cinco valores sólidos para seus filhos

Fonte : Revista Seleções
Data : Setembro de 1983
Autor : Ardis Whitman

Os tempos mudam, os costumes também, e até mesmo os códigos morais; certas qualidades, porém, permanecem.

Apanhada colando na escola, a filha de 14 anos da minha amiga Jane, foi suspensa. Na hora da verdade, a menina reagiu e gritou: “E daí? Agora tudo é diferente. Já não seguimos mais as suas regras.”
“Pode ser que ela tenha razão”, disse-me a mãe aflita, “e não sei lidar com o problema.”
Poderíamos dizer que, nos dias de hoje, vivendo neste mundo tão confuso e em constante mutação, nós não sabemos o que ensinar aos nossos filhos. Devemos, então, simplesmente improvisar à medida que passa o tempo? Claro que não. Por mais que os tempos mudem, teremos sempre as mesmas necessidades de nossos ancestrais para levarmos nossas vidas com alegria e coragem; para vivermos em harmonia com nossos semelhantes, preservando aqueles valores que propiciam nosso crescimento, aprendendo e tornando-nos pessoas cada vez melhores.
Quais são afinal esses valores? Pensei demoradamente sobre o assunto e concluí que a resposta, no meu entender, se resume a cinco itens.

Alegria: Primeiramente, ensinaria uma criança a ser feliz. Felicidade não é, em hipótese alguma, o objetivo maior na vida de uma pessoa, e também não é necessário ser feliz todo o tempo; mas o hábito de estar satisfeito animou muita gente de coração partido, da mesma forma que a inaptidão rancorosa para apreciar tornou muitas vidas amargas. Experiências alegres ajudam a criar personalidades extrovertidas e generosas. Elas nos proporcionam belas lembranças para animar as histórias de nossas vidas.
Recordo-me de um longínquo dia de junho. Minha filha tinha um ano de idade quando sua avó e eu lhe oferecemos pela primeira vez um morango. Seu rostinho abriu-se em sorrisos. Ela dançou e riu alto. Depois da primeira mordida, segurou o morango bem em frente aos olhos, observando-o com incredulidade – então, rapidamente, jogou o resto dentro da boca.
Como podem os pais ensinar algo tão abstrato como a alegria? Principalmente evitando ao máximo interferências. Dada a oportunidade, a criança cria seu próprio divertimento. Devemos ensina-la a manter esta qualidade na sua vida adulta, e a melhor maneira de conseguirmos isso é fazendo de nossos anos de maturidade um período bom e recompensador. Divirta-se; aproveite a sua vida, e seu filho assimilará isso através de você.

Amor: Em segundo lugar, eu tentaria ensinar á criança conservar o amor. A tendência nos dias de hoje é considerar o amor como um fenômeno passageiro, como um vento que chega e logo se vai. Isto não é nada bom, porque a criança precisa de um amor que seja tão confiável e duradouro como o nascer do Sol a cada dia. Se uma criança cresce no sentido de se relacionar com os seus semelhantes, precisa saber como manter o amor sempre vivo.
As crianças deveriam aprender não somente a amar mas também a ser afetuosas, fazendo do amor sua razão de viver. O problema é que a criança não nasce sabendo como ser uma pessoa amorosa. “Eu te amo mamãe”, diz ela; “Você é feia”, diz no minuto seguinte. Como podemos sintonizar estes sinais embrionários de amor numa imagem permanente e madura de uma pessoa afetuosa? Garantindo que seu filho esteja em contato diário com uma pessoa amorosa – você mesmo.

Honestidade: Em terceiro lugar, ensinaria à criança a importância da integridade. Nada no mundo poderá eliminar esta necessidade – é impossível imaginar qualquer tipo de sociedade sem ela. Integridade é a qualidade de merecer confiança. Significa que não mentimos uns aos outros; que o que prometemos cumprimos; que a afeição que professamos é verdadeira, e que o elogio que fazemos é sincero.
Ensinamos integridade a alguém através do nosso próprio exemplo. “Nossa família não mente”, disse orgulhosamente o garotinho à professora que o acusava injustamente.
Talvez a melhor maneira de a criança aprender a ter bom comportamento seja dar-lhe tarefas para serem cumpridas. Esta lição não é muito divertida. Durante este processo, os pais tornam-se malquistos e precisam apegar-se firmemente à idéia de que as crianças nunca assumem responsabilidades sem auxilio. Isto implica em garantir que a criança cumpra sua tarefa até o final; quer dizer, confiar nela, dando-lhe a chance de fazer as coisas por si mesma, ainda que venha a estragar tudo durante o processo.
Integridade significa também que a criança aprende a assumir a culpa dos seus erros. Quando nosso filho tinha seis anos, viu uma revista em quadrinhos com uma capa tentadora. Como não tivesse dinheiro suficiente para compra-la, aproveitou um momento em que o jornaleiro não estava olhando e furtou-a . O pai descobriu tudo e ficou consternado. Claro que teríamos de pagar a revista, e concordei com ele, mas não poderíamos simplesmente entregar o dinheiro ao jornaleiro? Afinal de contas, ele era um menino tão pequeno; se falássemos com ele sobre o assunto, eu tinha certeza de que ele não faria aquilo novamente.
Meu marido, porém, nunca teria concordado com isso, e, finalmente, um garotinho acompanhado pelo pai voltou à banca de jornais e contou ao jornaleiro o que havia feito. Meu marido tinha razão. Integridade não se consegue de graça, e a melhor época para aprendermos isso é quando somos pequenos.

Coragem: em quarto lugar, ensinaria a criança a ser corajosa. Ela precisa disso para se tornar uma pessoa íntegra e, também, poder suportar frustrações e fracassos sem ser derrotada por eles. Se pudéssemos de alguma forma manter o sofrimento longe dos nossos filhos, estaríamos afastando deles a própria vida.
Mas como podemos ensina-los a ser valentes? Deveríamos dizer a uma criança feliz que vai sofrer? Creio que sim. Mesmo os pequenos descobrem que sua avó morreu; que seu cachorrinho está machucado; que os amigos de infância traem e abandonam. A melhor coisa que se tem a dizer a uma criança que ainda não pode entender a filosofia da vida é que as coisas são assim mesmo.
Console seu filho quando ele estiver em dificuldades. Mostre-lhe que você o compreende, mas não tente estancar suas lágrimas. Aceite o sofrimento da criança e permita a ela expressá-lo. Quando a tempestade amainar, diga-lhe: “Vejamos a lição que podemos tirar disto; vejamos como você pode melhorar.”
Finalmente, você pode preparar seu filho para a dor ensinando-lo a sentir-se ligado a outras pessoas que sofrem. Muita gente supera sua própria mágoa quando se descobre necessária para outra.

Fé: Em quinto lugar, daria a uma criança algo em que acreditar. Coisas interessantes surgem de diversas formas e tamanhos, desde o sonho do menino de se tornar bombeiro até a fantasia de Martin Luther King de libertar sua raça. Mas como podem os pais estimular na criança um bom sonho? Neste sentido exato, não se pode; mas poderemos ouvir, respeitosa e amorosamente, os planos e as esperanças da criança, por mais ingênuos que eles possam parecer, e, sempre que possível, ajudar a transformá-los em realidade.
Poderemos também apresentar nossos filhos ao mundo dos livros, da música e da arte, onde se alojam muitos e bons sonhos; e, finalmente, poderemos comunicar-lhes uma fé religiosa, o campo mais amplo para nossas crenças. Certa vez, quando meu filho tinha três anos, eu o ouvi rezando: “Ajude-me a ser um bom menino...mas o Senhor também tem de ser um Deus bom.” A oração fazia bastante sentido. Se uma criança acredita na existência de um bom Deus, responsável por este mundo, então as coisas tornam-se muito mais claras. É como encontrar um caminho através de uma floresta escura e densa.
Que fazer se nós mesmos não temos fé? Isso é um problema que perturba especialmente os pais modernos. Cepticismo pode parecer bom para eles, mas é perturbador quando se trata de transmiti-lo aos filhos. Eles deveriam dizer á criança como se sentem, sem no entanto fecharem as portas à sua frente. Diga a elas que se trata de uma questão muito séria e que você também está procurando encontrar a resposta. Diga-lhes que uma vida não é longa demais para tentar descobrir se Deus existe, e como é Ele.
Enquanto isso, ensine seu filho a transformar crença em ação. Aprendemos a crer, agindo em função da nossa fé, e assim também fazem nossas crianças.
Estas são, para mim, as coisas mais importantes que uma criança pode aprender.

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