segunda-feira, dezembro 18

Um Papai Noel inusitado

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 2004
Autor : Marc Howard Wilson

O inverno que se seguiu ao 11 de setembro foi difícil para mim. Eu havia acabado de deixar o rabinato em Greenville, Carolina do Sul, embarcando no que seria um longo período de desemprego e, em plena meia-idade, muitos dias de depressão. Sentia um enorme vazio. Minha única alegria foi ter comigo os netos, Sophie e Simeon, para o Hanukkah, mas, quando eles voltaram para casa, de novo o estado de espírito sombrio e o vazio interior tomaram conta de mim. Foi então que minha mulher, Linda, diretora de uma instituição de caridade para os sem-teto, sugeriu que eu me vestisse de Papai Noel para 30 crianças, na programação natalina de uma repartição municipal. Como dizia ela, eu parecia o velhinho. Tenho barriga e barba cheia, quase branca.
Embora eu seja judeu, a questão de esbarrar em costumes e fronteiras religiosas não me preocupava: sempre acreditei em incentivar as pessoas a serem menos rígidas em relação a essas delimitações. Ainda assim, por motivos que nada tem a ver com religião, naquele ano, não estava animado. Mas Linda insistiu que a vida continuava. Então, comecei a treinar meus sonoros “Ho-ho-hos”.
Eu não estava preparado para aqueles 30 pares de olhos que se cravaram em mim quando cheguei. “Papai Noel! Papai Noel! Olhe meus sapatos novos! Papai Noel! Eu me comportei direitinho, Papai Noel! A gente pode cantar Sinos de Belém?”
As crianças voaram para cima de mim, aos beijos e abraços. Todas se sentaram em meu colo e posaram para fotografias, e dei a cada uma delas um presente: um ursinho de pelúcia, uma boneca, um livro para colorir.
A alegria desinibida a as vozes entusiasmadas me trouxeram lágrimas aos olhos. Senti uma onda de compaixão. Aquelas crianças eram o presente mais frágil de Deus a uma mundo frio: dádivas de inocência. Essa percepção confirmou para mim as profundas verdades da palavra de Deus. Aquelas crianças sem teto me arrancaram da insegurança e da desilusão. Naquele instante precioso, perdi a cabeça e recobrei a sanidade.

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