quinta-feira, janeiro 18

O poder da paciência

Fonte : Revista Seleções
Data : Março de 1973
Autor : Norman Vincent Peale

Pode conduzir a uma vida de paz e realização; no entanto, são poucos os que a põem em prática

Há muitos anos, sacerdote jovem e ambicioso chamado para uma grande igreja na cidade de Nova York, eu estava cheio de idéias, inovações e entusiasmo. Infelizmente para mim, dois dos mais antigos influentes membros da igreja eram cautelosos tradicionalistas. Opunham-se a todas as mudanças e reprovavam quase tudo quanto eu dizia.
Um domingo, após ter feito um sermão que me parecera muito bom, fui abordado por um dos meus críticos, que me disse friamente: “Aqui, os sermões demoram 25 minutos. O senhor levou mais dois minutos.”
Controlei-me até chegar a casa. Aí literalmente explodi, gritando que a congregação teria de escolher entre aqueles dois fósseis e eu.
Nesse dia, almoçava comigo meu pai, também sacerdote. Escutou minha tirada calmamente e, quando acabei, disse: “Bem, meu filho, você pode levar as coisas a esse extremo, mas garanto que se arrependerá. Vai arranjar dois inimigos terríveis, irá, provavelmente, dividir a igreja e prejudicar, com certeza, a sua carreira.” Fez uma pausa e depois perguntou: “Posso dar uma sugestão?” O sucesso na vida é feito de vários ingredientes. O seu problema atual parece que requer aquele ingrediente espinhoso e difícil que se chama paciência. Sei muito bem que quase todo o mundo detesta o chavão de que a paciência é uma virtude, mas, como a maioria dos lugares-comuns, este é verdadeiro, funciona e está na hora de experimenta-lo.”
“Muito bem!” concordei. “Mas que faço eu agora?”
“Antes de mais nada, é deixar o tempo trabalhar a seu favor, fria, deliberadamente e numa estratégia dinâmica. Estude esses dois homens, tente compreender porque agem assim; veja as coisas do seu ponto de vista, mostre que gosta deles como indivíduos. Depois, quando já gostarem de você e tiverem confiança – o que acontecerá – poderá começar a vender-lhes as suas idéias. A paciência tem um poder enorme. Por que não explora-la?”
Segui o seu conselho, nesse dia, e continuo seguindo-o . meu pai tinha razão: seja qual for o problema que estivermos enfrentando, a paciência criativa é o caminho comprovado para a solução.
Todos os sacerdotes conhecem exemplos tristes do que acontece quando não se sabe aproveitar na vida esse poder da paciência. Lembro-me de um jovem médico e sua mulher, que certo dia me procuraram para os aconselhar sobre o seu casamento. Ele era idealista e interessava-se profundamente por pesquisas de laboratório; ela era materialista e sentia-se frustrada porque o marido não se esforçava mais para transformar seu talento em dinheiro. Tentei persuadi-los a experimentar terem paciência, mas a mulher insistiu no divórcio. Três anos depois, o marido foi convidado a chefiar um vasto programa de pesquisa, e choveram sobre ele todo o prestígio e fortuna que a ex-mulher ambicionara. A sua incapacidade – ou falta de vontade – de ter paciência privaram-na de gozar esses benesses.
Por que as pessoas não conseguem utilizar melhor a paciência em suas vidas? Na minha opinião, será, principalmente, porque ela tem três grandes inimigos: o desânimo, que leva as pessoas a desistir com tanta facilidade; a frustração, que perturba o raciocínio e destrói a oportunidade; a tendência para uma reação exagerada, sob tensão, que desencadeia o pânico e rouba a serenidade. Sei alguma coisa a respeito destes três demoniozinhos, porque – como a minha mulher lhes garantirá com veemência – sou vítima de todos eles. Por isso, tenho sido obrigado a procurar com afinco maneiras de neutraliza-los. Talvez algumas das minhas técnicas possam ajudar outras pessoas:
Primeiro, quando os resultados esperados não se concretizam, apesar dos meus melhores esforços, e o desânimo começa a se insinuar, recordo o filósofo que disse não ser o gênio nada mais que uma invulgar aptidão para a paciência. Recordo-me de Luther Burbank, que calculou ter arrancado um milhão de espinhos de cactos dos dedos nos 16 anos que dedicou à cultura de um cacto comestível para o gado. Ou Thomas Edison, que respondeu alegremente ao cético que lhe perguntou como poderia justificar mil experiências sem êxito num só projeto: “Ora, assim já conhecemos mil maneiras como não funciona!” Em resumo, tento concentrar minha atenção não nos reveses, mas nas posteriores recompensas da persistência paciente.
Segundo, quando sinto as chamas da frustração começarem a esquentar meu raciocínio, lembro-me de algo que Winston Churchill disse durante a Segunda Guerra Mundial a um general impaciente e colérico: “O senhor não domina as suas emoções”, rugiu o Primeiro Ministro. “Elas é que o dominam!”
Em momentos de frustração, descobri ser útil aquilo o que o psiquiatra suíço Paul Dubois chamou a “terapia das palavras”. De acordo com a sua teoria, palavras como “serenidade”, “tranqüilidade” ou “paz”, pronunciadas ou pensadas, ajudam a neutralizar a exasperação engendrada pela frustração. A prece, sobretudo, traz a paciência de volta. A frustração é sempre egocêntrica; a prece anula-a, desviando nossos pensamentos de nós próprios. Da próxima vez que, muito apressado, estiver indo a qualquer lugar, e se vir detido por uma série de sinais vermelhos, em vez de se enfurecer e aumentar a pressão arterial, tente rezar por alguém conhecido que esteja atravessando verdadeiras dificuldades. Se o fizer com toda a sinceridade, o sentimento de frustração diminuirá logo!
Quanto ao terceiro inimigo da paciência – a inclinação para perder a serenidade numa crise – certa vez aprendi uma lição valiosa, numa base aeronaval. Um dos oficiais era grande admirador de um almirante que eu conhecera num jantar na casa do comandante. “Nada o perturba”, afirmou-me o oficial. “É feito de aço.” O tal almirante fora comandante de um grande porta-aviões. Certo dia, quando levava seu barco para o porto, surgiu um navio-tanque pela proa. A colisão parecia iminente. Nesse momento, irrompeu pela ponte um tenente, gritando: “Comandante, há fogo na coberta-hangar!”
Um incêndio num porta-aviões é o pior desastre possível. Apesar disso, de olhos fixos no navio-tanque, o comandante não respondeu. “Há fogo na coberta-hangar!” gritou de novo o tenente, mais apavorado. Sem sequer voltar os olhos, o comandante respondeu, calma e pacientemente: “Ouvi-o da primeira vez. Vá você apaga-lo!”
Mais tarde, perguntei ao próprio almirante se a história era verdadeira. “Sim, aconteceu”, confirmou. “E, por dentro, talvez eu estivesse ainda mais agitado que o jovem oficial. Mas esforcei-me a ser paciente e resolver primeiro o problema maior: a colisão. Aprendera, havia muito, que, se conseguirmos agir com calma numa crise, nossa calma contagia os que nos rodeiam.”
Há muitas maneiras de aprendermos o valor da paciência criativa. Ouvindo uma pessoa mais sensata falar dela, como aconteceu comigo. Vendo-a em ação. Observando a própria vida. Afinal, nada consegue apressar o nascer do sol, nem modificar o ritmo das marés. Essas coisas possuem uma paciência eterna, que o homem impaciente poderá imitar, se tiver cabeça.
O principal, quem quer que seja e onde quer que esteja, é estender as mãos para a paciência e perseverar tentando adquiri-la. É uma chave para uma vida bem sucedida e está ao alcance de todos nós.

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