quinta-feira, janeiro 11

Sob o arco

Fonte : Revista Seleções
Data : Dezembro de 2004
Autora : Natalie Garibian Peters

Eu estava estudando em Paris, deleitando-me com as aulas da faculdade, as viagens de fim de semana e a minha própria renascença. Meu pai havia me pedido para procurar parentes que talvez morassem perto, mas não procurei. Queria me sentir sofisticada e livre, cortando laços familiares e abandonando os arreios de minha criação americana.
O verão passou. Os dias ficaram mais frios e escuros. E, mesmo na Cidade das Luzes, comecei a sentir saudades da família. Eu me sentia sozinha e deslocada, ansiando pelas alegrias familiares do Natal. Perguntei-me se não estaria virando as páginas de minha vida depressa demais.
Assim, num dia frio e triste de 1996, peguei-me andando em direção à Igreja Armênia, uma modesta construção de pedra na luxuosa Rue Jean-Goujon.
Sentei-me afastada, debaixo de um dos lindos arcos de pedra. Enquanto o Der Hayr (padre) falava, vi uma senhora curvada, andando no corredor à procura de um assento livre.
Conhecendo a duração da missa Armênia, eu não queria exatamente ceder meu lugar, mas eu tinha 20 anos e ela, 70. Então, quando a senhora se aproximou, ofereci-lhe meu assento, em armênio. Ela aceitou, sem nada dizer, e postei-me ao lado, debaixo do arco.
De vez em quando, ela olhava para mim. Peguei-me retribuindo o olhar. Havia algo de suave e simpático em seus olhos castanhos, profundos e observadores. Ela se benzia, cantava e tornava a se benzer. Invejei o bem-estar e a segurança que parecia sentir ao cantar e erguer as mãos para Deus.
Quando a missa estava terminando, ela me perguntou em voz baixa: “Você não é daqui, é?”
“Como a senhora sabe?”
“Você falou comigo em armênio. Os jovens daqui falam francês. De onde você é?”
“Dos Estados Unidos. Da Flórida”, respondi.
Com os olhos na missa, ela disse: “Tenho parentes na Flórida. Três irmãos: Sarks, Dikran e...”
“Ara”, interrompi-a, com um nó na garganta. “Ara é o meu pai.”
O rosto marcado e forte da mulher se desfez em lágrimas. Ela levantou as mãos novamente.
“Asdoodzo Kordzeh! (Obra de Deus!) Há 30 anos procuro seu pai. Sabia que você era especial. Vi no seu rosto.”
Ela era minha tia, da família dispersa do meu avô materno, por conseqüência da diáspora Armênia pelo Iraque, pela Síria e pelos Estados Unidos. Morava na Síria e só estava em Paris temporariamente. No entanto, aconteceu de estar debaixo daquele arco na mesma hora que eu. Atravessando mares e gerações, nós duas nos encontramos.
Eu achava que estava na França para descobrir que eu era e reunir histórias para o futuro. Talvez não soubesse bem o que estava procurando, mas também não precisei, porque um anjo do passado, Arev Kasparian, encontrou-me e reuniu nossa família.

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