quarta-feira, janeiro 31

Não vou me aposentar

Fonte : Revista Seleções
Data : Setembro de 1982
Autor : Henry Lee

Às vezes a “boa vida” não é assim tão boa...

Durante anos, trabalhando sete dias na semana, senti pena de mim próprio. Rabisquei centena de artigos para os jornais, além de alguns livros, para conseguir criar três filhos e poder manda-los para a universidade.
Então, quase repentinamente, os que dependiam de mim tornaram-se independentes. A pressão aliviou e eu me aposentei. Livre, enfim! Podia agora dormir até tarde, ir aonde me agradasse e quando me desse na cabeça.
Mas a coisa não se passou assim. Todas as manhãs eu acordava e olhava um calendário vazio. Bem, podia zanzar, fingir entreter-me com pequenos trabalhos em casa ou ir às compras. Tentei interessar-me por passatempos, mas nem todo mundo nasce para curtir essas coisas.
Comecei a ter uns vagos achaques. Meus sonhos, curiosamente, tornaram-se ruins: acordava no meio da noite de punhos cerrados. Mental e fisicamente sentia-me acabado.
Por fim, analisei a expressão, simples mas profunda, do poeta e filósofo suíço Henri-Frederic Amiel: “É o trabalho que dá gosto à vida.”
Então, voltei ao trabalho. Os achaques desapareceram gradualmente, os sonhos suavizaram-se. Hoje, com 71 anos, possuo aquele sentimento de determinação e orgulho na minha vida que só o trabalho dá.
Segundo a minha experiência, as pessoas que mais duram trabalham parecem sempre ser as mais felizes. Meu pai era oriundo da Nova Inglaterra e, quando jovem, trabalhou, durante a Guerra Civil norte-americana, numa fábrica de munições em que o dia de trabalho durava de 10 a 12 horas e a semana era de pelo menos seis dias. Mais tarde, ele montou um negócio próprio, de novo trabalhando 12 horas por dia, e prosperou. Conseguia até arranjar tempo para se interessar pelos assuntos públicos e alcançou um sucesso moderado na política.
A recessão da primeira década de 1900 arruinou-o financeiramente, e assim se perdeu uma vida inteira de trabalho. Meu pai escolheu o único caminho que conhecia: começar tudo de novo.
Ele já passava dos 80 anos quando eu realmente principiei a compreende-lo. Na altura, ganhava ele algum dinheiro fazendo parte de júris, administrando uma propriedade por conta do tribunal de sucessões e viajando regularmente até as cidades vizinhas para destrinçar pequenos negócios complicados envolvendo propriedades. Suas múltiplas atividades mal davam, naqueles tempos heróicos e cruéis, para manter a família, mas raramente ele parecia preocupado e praticamente nunca se queixava. Desde o café da manhã, às 7:30, até se deitar, às 22:00, andava permanentemente ocupado.
Quando ele morreu, senti um grande choque ao descobrir a pilha de faturas por liquidar, do fornecedor de carvão e da mercearia, e só então compreendi como ele devia ter-se sentido desesperadamente atormentado. Maravilhou-me a sua determinação e, ao mesmo tempo, senti pena. Ali estava um homem que não tinha pensão de aposentadoria nem quaisquer benefícios sociais, e que, já na velhice, enfrentara a Grande Depressão da única maneira que sabia – trabalhando sem perdão e no duro.
Hoje sinto menos pena dele. Sei que foi o trabalho árduo que o manteve vigoroso e feliz até quase o seu 85º aniversário.
Claro, percebo que estas palavras podem soar falso às vítimas da recessão de hoje, gente involuntariamente desocupada. Meu coração está com elas, pois o desemprego é muito mais que uma catástrofe econômica; consome a alma.
Já me aconteceu uma vez. Certa manhã, meu chefe me prometeu que, se eu continuasse trabalhando em força, me aumentaria o salário para o dobro no fim de um ano. Nesse mesmo dia, depois do almoço, ele me chamou subitamente ao seu gabinete.
“Você é um jornalista”, disse bruscamente, “por isso vou lhe falar sem rodeios: vamos ter de fechar no fim do mês. Não sei por que, mas estamos falidos.”
De um momento para outro, eu era um zero econômico, despojado do meu objetivo, da minha dignidade pessoal, do meu valor próprio.
O choque e a desolação que senti eram semelhantes ao que se sente quando nos morre um velho amigo. Pior. Eu evitava os amigos, receando a inocente pergunta: “Como é que vai o trabalho?”
Se não ter o que fazer me era doloroso, imagine o que será para os jovens, para os pais e as mães com famílias para sustentar. O trabalho dá dignidade e significado à vida.
Sem ele, ficamos terrivelmente diminuídos.
Com certeza que, se existe o inferno, o castigo supremo lá deve ser acordar numa chamejante manhã sem lugar nenhum para onde ir, sem nada para fazer, sem nenhum desafio de trabalho que nos faça a adrenalina pular no sangue.
Não sou capaz de imaginar nada pior.

2 comentários:

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