quarta-feira, janeiro 3

Thomas Edison, o homem por trás do gênio

Fonte : Revista Seleções
Data : Janeiro de 1974
Autor : Don Wharton (que coletou as informações)

Thomas Alva Edison, inventor do fonógrafo, da lâmpada incandescente, da câmara fotográfica, do mimeógrafo, do transmissor a carvão (que tornou o telefone comercialmente factível) e de outras mil invenções patenteadas, talvez tenha sido o norte-americano mais amado e admirado de seu tempo. Na noite de seu enterro (exatamente às 9 e 59 do dia 21 de outubro de 1913), milhões de famílias dos Estados Unidos lhe prestaram um tributo, apagando, durante um minuto, as lâmpadas que ele tinha inventado.
Por que foi tão amado esse gênio de 84 anos? A resposta está nesses instantâneos íntimos de Edison, no trabalho e no lazer, coletados por Don Wharton em escritos de pessoas que melhor o conheceram (parentes, amigos íntimos, colaboradores), e que dão uma idéia do “humano” que era Thomas Edison.

Ele tinha mais ou menos seis anos quando descobriu por que as gansas ficavam “sentadas”, chocando e o que resultava daquilo. Certo dia, não conseguíamos encontra-lo em parte alguma. Depois de muito procura-lo, papai o foi achar num ninho que ele mesmo tinha feito, no quintal, sentado sobre uma porção de ovos de gansa e de galinha – tentando choca-los.
Marion Edison Wheeler, irmã de Edison.

Edison nasceu em Milan, Ohio, em 1847, mas sua família se mudou para Port Huron, Michigan, quando ele tinha sete anos. Logo depois de chegar, contraiu escarlatina, o que talvez tenha sido a causa de sua surdez parcial. Aos oito anos, foi tirado da escola, possivelmente devido a um professor rígido e despreparado, e ao fato de o pai não poder mantê-lo. Daí em diante sua única instrução veio de sua mãe. Aos dez anos, montou uma oficina no celeiro da casa, em Port Huron.

Estava sempre brincando de telégrafo, e, certa vez, instalou uma linha de sua casa até a minha, a um quarteirão de distância. Eu não conseguia captar as mensagens muito bem e, algumas vezes, saía de casa e subia no muro, para perguntar a ele o que tinha dito. Isso sempre deixava Edison furioso. Parecia tomar aquilo como uma ofensa ao seu telégrafo.
James Clancy, amigo de infância.

Aos dezesseis anos, Edison trabalhou como operador no serviço de telégrafos de Port Huron.
No inverno de 1864, uma tempestade de neve afetou os cabos telegráficos entre Port Huron e Sarnia, na margem canadense do Rio St. Clair. As barcaças também estavam paradas, o que interrompeu todas as comunicações naquele cruzamento internacional. Edison sugeriu que uma locomotiva fosse trazida às docas de Port Huron. Lá, sob sua direção, o maquinista começou a transmitir pelo apito, os sinais longos e breves do Código Morse. Finalmente, um telegrafista da outra margem captou a mensagem, fez vir também uma locomotiva às docas de Sarnia, e começou a responder da mesma forma, através dos 1.500 metros de largura do rio. Estavam restabelecidas as comunicações.
Edison e outras fontes.

Em 1869, Edison, então com 22 anos, foi para Nova York a fim de tentar a comercialização de suas invenções. Um ano após, depois de várias invenções menores, no terreno telegráfico, foi convidado pelo general Marshall Lefferts, chefe de uma subsidiária de Western Union, para aperfeiçoar um mecanismo que recebesse, nos escritórios de corretagem, a cotação das ações da Bolsa. Edison inventou um dispositivo que imprimia as cotações numa fita de papel em movimento.
Edison recebeu então o primeiro cheque de sua vida – no valor de quarenta mil dólares. Ao tentar descontar o cheque no banco, o caixa disse alguma coisa que Edison, em sua surdez, não compreendeu direito. Levou-o de volta ao general, e este lhe disse que ele teria de assinar o cheque. Recebendo a quantia em pilhas de pequenas notas, Edison conseguiu enfiar todo o dinheiro nos bolsos de seu sobretudo e nos noutros. Foi então Mara Newark, onde ficou acordado a noite toda, temendo ser roubado.
William H. Meadowcroft, secretário de Edison.

Em 1876, Edison decidiu se dedicar inteiramente ao “negócio de invenções”, num remoto povoado em Nova Jersey, chamado Menlo Park. Lá, ele montou uma oficina de trinta por nove metros, e contratou uma dupla de assistentes. E, em 1877, inventou o fonógrafo, talvez sua criação mais original (certamente, ninguém antes dele tinha reproduzido mecanicamente a voz humana). Muitas pessoas pensavam que era um truque.
Certa manhã, o Bispo John Vincent foi à oficina, e pediu para ver o fonógrafo. Mostrei-o a ele, que (depois de procurar, em vão, algum ventríloquo escondido na sala) pediu para dizer algumas palavras. Pus uma chapa nova no fonógrafo, e ele começou a recitar nomes bíblicos com incrível rapidez. Quando o fonógrafo o reproduziu, o bispo disse: “Estou convencido agora. Não há ninguém nos Estados Unidos capaz de dizer esses nomes com tal rapidez.”
Anotações de Edison.

Resposta de Edison a um novo empregado que lhe perguntava sobre os regulamentos da oficina:
"Bolas, não há regulamentos aqui. Estamos tentado realizar coisas."

Certo dia, um fazendeiro veio me perguntar se eu conhecia algum processo para matar os parasitas da batata. Ele havia plantado oito hectares de batata, e as plantações estavam sendo destruídas. Mandei alguns homens lá, para recolherem um boa quantidade de insetos, e tentei todas as combinações químicas para destruí-los. Finalmente, descobri que o bissulfeto de carbono era o ideal. Fui até a fazenda, e despejei-o sobre a plantação. Todos os insetos morreram. Na manhã seguinte, o fazendeiro veio se queixar de que a droga tinha matado também as plantações. Tive que pagar trezentos dólares por este erro.
Thomas Edison.

Edison trabalhou com afinco, para criar a lâmpada incandescente, do outono de 1878 até o momento do triunfo, na memorável noite de 21 para 22 de outubro do ano de 1879.
Freqüentemente, durante a invenção da lâmpada incandescente, quando estava sob forte tensão e cansaço, Edison costumava se sentar ao órgão, e tocar algumas canções de forma muito primitiva; depois voltava, e começava a contar anedotas aos seus auxiliares.
Francis R., Upcon, principal assistente de Edison na oficina de Menlo Park.

Edison foi para o oeste, a fim de observar o eclipse total do Sol, em 29 de julho de 1878. Graças à influência de Jay Gould, que na época, controlava a estrada de ferro Union Pacific, Edison teve permissão para viajar no limpa-trilhos da locomotiva.
O maquinista me cedeu uma pequena almofada, e viajei assim desde Omaha ao Vale de Sacramento (2.700 quilômetros), exceto durante as nevadas no cume das Sierras, sem poeira nem nada que me obstruísse a visão.
Edison, citado por William H. Meadowroft.

A primeira mulher de Edison, Mary Stillwell, morreu em 1884. Em 1886, ele se casou com Mina Miller, uma belíssima morena com metade da sua idade.
Durante o namoro, minha surdez foi de grande ajuda. Ensinei à garota o Código Morse e, quando ela estava apta, tanto a enviar quanto a receber, passamos a nos comunicar muito melhor do que com simples palavras – tamborilando as mensagens de amor em nossas mãos. Finalmente, perguntei-lhe em Morse se ela se casaria comigo. A palavra sim é fácil de transmitir em código, e foi o que ela me enviou.
Numa longa viagem às Montanhas Brancas, podíamos usar expressões de carinho sem qualquer constrangimento, embora houvesse outras três pessoas no carro. Ainda hoje usamos o Código Morse. Quando vamos a uma peça, ela mantém sua mão sobre meu joelho, e telegrafa as falas dos atores.
Diário e outras observações de Thomas Alva Edison, compilado por Dagobert D. Runes.

Edison teve seis filhos; o penúltimo, Charles Edison, foi governador do Estado de Nova Jersey.
Meu pai sempre insistiu em que andássemos descalços durante o verão. E também que acordássemos cedo no dia 4 de julho ( dia da independência ). Gostava de descer de seu quarto, tomar bem cedinho o café da manhã, e nos levar para o alpendre. A primeira coisa que fazíamos era soltar buscapés. Adorava joga-los para perto de nós, para nos ver correr e pular. Não havia nada de sádico nisso. Era apenas um modo de se divertir e, naturalmente, nós lhe dávamos o troco. Depois, começávamos a soltar fogos de artifício. Ficávamos a manhã toda soltando rodinhas, foguetes e torpedos.
Governador Charles Edison.

Não creio que algo tão estranho tenha ocorrido em outro almoço, em Nova York ou em qualquer outra parte. Depois do primeiro prato, Edison (então com 69 anos), apontando para um grande candelabro no meio da sala, disse: “Henry (dirigindo-se a Henry Ford, o magnata dos automóveis), aposto o que quiser como posso arrancar com um chute aquele globo do candelabro.” E, dizendo isto, se preparou para pôr em prática o que dissera.
Ford disse que topava a aposta.. Edison se levantou, empurrou a mesa para um lado da sala, tomou sua posição bem no centro e, com o olho fixo no globo, deu o chute mais alto que já vi até hoje, e partiu o globo. Então, prosseguiu: “Henry, vamos ver agora se você consegue fazer o mesmo.”
Ford mirou com cuidado, mas seu pé errou o candelabro por uma fração. Durante o resto do almoço, Edison zombou de Ford. Parecia mais orgulhoso de seu chute do que se tivesse inventado um meio de acabar com a guerra submarina.
Jsephus Daniels, Ministro da Marinha Americana na gestão Woodrow Wilson.

Certo dia, quando Edison e eu visitávamos Burbank, na Califórnia, Burbank nos pediu que nos registrássemos em seu livro de hóspedes. Esse livro tinha uma coluna para a assinatura, outra para ao endereço, outra para a profissão e outra que dizia: “Interessado em”. Na coluna final, Edison escreveu, sem hesitar: “Tudo.”
Henry Ford.

Edison foi visitar os trabalhos da restauração de sua oficina de Menlo Park, em Dearbon, Michigan (que Henry Ford recriara, no valor de dez milhões de dólares), para determinar a precisão com que tudo vinha sendo feito. Disse a Ford: “Bem, você está fazendo um trabalho 99 por cento perfeito.”
Ford perguntou meio desconfiado: “E onde você vai buscar o outro um por cento?”
Respondeu Edison: “Nunca mantivemos nossa antiga oficina assim tão limpa como esta.”
E. C. Liebold, assistente de Ford.

Edison estava se distraindo com um pouco de mercúrio num copo. Perguntou-me se eu não achava o mercúrio uma substância miraculosa. Respondi que sim. De repente, seu rosto assumiu um ar muito sério, e Edison declarou: “Dizem que sou um grande inventor. Mas não sou nada disso. Quando penso que não posso inventar nem mesmo um mísero idiota capaz de dizer as coisas mais míseras e idiotas, me convenço de que não passo de um insignificante inventor.” Então, apontando para cima, acrescentou: “Aquele sim. Aquele é que é, inegavelmente, um verdadeiro inventor!”
Martin André Rosanoff, químico da equipe de Edison.

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