segunda-feira, abril 16

Primeiros passos

Fonte : Revista Seleções
Data : Outubro de 1998
Autora : Marnie O Mamminga

Uma festa da oitava série pode abrir todo um novo mundo.

Na noite fria e chuvosa, a ansiedade dos adolescentes está em grande forma. Quando vou ver se meu filho de 14 anos está pronto para seu jantar dançante da oitava série, sou envolvida pelo forte perfume de colônia que vem do quarto dele.
“Acha que a gravata combina com a calça?”, pergunta, nervoso.
Ele veste as roupas do irmão de 16 anos. Em vez de usar a própria roupa nessa ocasião especial, aposta no “estilo” comprovado do irmão. Olho para as bainhas da calça varrendo o chão, a camisa frouxa, os grandes mocassins de camurça do irmão, que lhe parecem querer escorregar dos pés.
“Combina perfeitamente”, respondo. Se ele está satisfeito, também estou.
Vamos para a casa da namorada dele, onde vários amigos estão reunidos para uma sessão de fotos. Lembro-lhe para ser educado. Ele concorda, distraído, preocupado com sua primeira festa de verdade.
Quando estacionamos na entrada da casa, murmura-me um conselho: “Mãe, não tire fotos demais.”
Entendo o que ele quer dizer: não fale demais. Não ria alto. Em outras palavras, não faça nada que o deixe constrangido diante dos amigos.
A namorada de meu filho é uma garota que ele conhece desde a primeira série. Acabou de sair do salão de beleza e está quase chorando porque acha que o cabelo ficou horrível. Usa um vestido curto e bonito. Meu filho diz que ela está ótima. Orgulho-me dele.
Conversando e rindo, os pais da garota dirigem a sessão de fotografia como se fosse a filmagem de Hollywood, usando vários rolos. Mãe emudecida, abafo minhas risadas e só tiro quatro fotos. Meu filho me lança um sorriso secreto. Orgulha-se de mim.
Como um bando de gansos rindo à toa, os adolescentes vão para o furgão que os aguarda. Sem saber onde sentar, resolvem ir as garotas na frente, os garotos atrás.
Três horas depois estou de volta ao salão de festas. Fui designada motorista. A essa altura, os pares se desfizeram.
“Então, que tal?”, pergunto, enquanto quatro amigos da vizinhança entram no carro.
“Durou pouco”, respondem, ao mesmo tempo.
“Impressionante.”
“Até a comida estava boa.”
A cacofonia da conversa e o calor corporal logo enchem o carro de vapor. Embora a noite esteja fria, abaixo um pouco os vidros. Os garotos acham que é para poderem acenar e gritar suas despedidas aos amigos, o que fazem com vontade.
“Com quem vocês e suas garotas se sentaram no jantar?”, indago.
“Ah, nós comemos com os caras”, responde meu filho.
“Não ficaram com as meninas?”, pergunto, espantada.
“Não, nós nos separamos assim que chegamos lá”, diz ele. “Nossas garotas queriam conversar com as outras, de modo que ficamos sentados.”
A menção das garotas provoca um instante de reflexão tranqüila.
“As garotas estavam tão diferentes”, reflete um menino.
“É, estavam... bonitas mesmo”, diz outro, entusiasmado.
Depois de ter visto essas mesmas garotas quando deixo meu filho na escola, compreendo a surpresa dos namorados. As meninas, como eles, vão às aulas de calça jeans e camisa larga de flanela. Mas para a primeira festa, as garotas capricharam mesmo: vestidos femininos, salto alto, maquiagem, jóias.
“Vocês dançaram?”, pergunto.
“Dançamos, mas eu estava muito nervoso”, diz um deles.
“Eu não tinha idéia do que estava fazendo”, confessa outro.
“Eu nunca tinha dançado na vida”, reconhece um terceiro.
“Pois eu saí para a pista e comecei a dançar”, diz o quarto. “Acho que no final da dança eu estava até me dando bem.”
Com boa comida, pares lindos e sem constrangimentos na pista de dança, como a noite poderia ter sido melhor?
“Sabe”, diz um, pensativo, “depois de todas aquelas danças, acho que não estou cheirando mal.”
“Acabei de verificar”, diz outro. “Meu desodorante ainda está funcionando.”
“Eu borrifei colônia nas minhas roupas antes de sair, por vias das dúvidas”, admite um terceiro.
“Coloquei colônia até nos sapatos”, declara o quarto. As gargalhadas abalam o carro.
Abaixo os vidros totalmente. Vozes felizes, mudando de tom, flutuam como música pelo vento da noite. Levando meus novatos para casa, saboreio seu espírito alegre diante das transições da vida. Com senso de humor e sinceridade, deram seus primeiros passos desajeitados pela pista de dança, passando de meninos a rapazes.

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