segunda-feira, junho 25

Sob as cobertas

Fonte : Revista Seleções
Data : Agosto de 1998
Autora : Marion Winik

A hora de dormir é ideal para ler

Um dos meus momentos preferidos do dia é um dos últimos – o último consciente, pelo menos. É o momento em que um cansaço violento, irresistível, toma conta de mim. Quando, depois de muito esforço para impedir que os olhos se fechem e o livro caia, sei que realmente é hora de dormir.
E assim, relutante, deixo o salão de baile da nobreza russa ou a uma região remota da Terra e vejo-me de volta à cama, as cobertas quentes e pesadas, os músculos tão relaxados que preciso mover as pernas para saber onde estão. Olho para o despertador – faltam só cinco horas para ele tocar!
Além do círculo dourado do abajur, a casa e o mundo lá fora estão silenciosos e escuros. Carinhosamente ponho o livro na cama a meu lado, sobre a colcha – meus óculos empoleirados nele como um louva-a-deus de pernas longas e olhos grandes. Apago a luz. Dormimos juntos, o livro e eu, os personagens e eu.
Ler na cama parece o tipo de hábito que atravessa gerações. A última vez que minha mãe ficou tomando conta do meu filho, cheguei em casa e encontrei tudo escuro, exceto por duas pequenas luzes. Uma vinha do quarto dele, onde descobri o aluno da terceira série metido sob as cobertas com um livro de aventura e uma lanterna elétrica. “Vá dormir”, disse com firmeza. “Ah, mãe!”, queixou-se ele. No outro extremo da casa, minha mãe já estava cochilando com um livro nas mãos.
Em algum lugar no meio estou eu, versão crescida da garota que costumava acampar sob as cobertas com um livro; futura vovó-babá que os filhos ao voltar para casa encontrarão dormindo satisfeita depois da leitura.
Em vez de arrumar meus livros nas categorias tradicionais – ficção e não-ficção, romances e contos, auto-ajuda e lazer – divido minha leitura de cabeceira em livros que me fazem dormir e livros que me mantém acordada. Ambos tem sua vez. Na noite passada pequei um volume fino, porém densamente escrito, de crítica literária, apesar de saber o nocaute que representaria. Do outro lado fica o suspense – pesados exemplares que nos deixam virando páginas durante a madrugada -, com romances policiais, histórias de amor, comédias; narradores tão envolventes que não se consegue faze-lo calar, mundos tão ricamente construídos que não se consegue deixa-los.
Quando o mundo do livro se torna mais real do que o mundo de sombras fora da luz do abajur, além do despertador, você encontra fuga mais completa do que quase qualquer outra; aquela que o prepara para mergulhar no sono, onde o mais misterioso e perfeito contador de histórias, o subconsciente, narra o obscuro mundo dos sonhos.

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