sábado, junho 16

Virando a mesa

Fonte : Revista Seleções
Data : Junho de 2004
Autora : Diane M. Goodman

Enfermeira descobre que consideração, conversa e compaixão acalmam um paciente difícil

Edna era forte, com ossos salientes e um penhoar surrado que se confundia com sua pele branca. Mas estava longe de ser invisível. Hospitalizada por causa de uma diverticulite, ela berrava pedindo café e pimenta, mesmo se contorcendo de dor no abdome. Quando recebia pílulas, ela as alinhava e perguntava à enfermeira sobre cada uma delas.
Mas isso não era nada comparado às “batalhas da mesa de cabeceira”. Edna exigiu duas mesas. Em uma delas punha canetas, o botão de alarme, os óculos, livros, lenços de papel e chinelos – organizados meticulosamente. As refeições eram servidas na outra.
“Não, não, não, você fez tudo errado!”, gritava ela quando a mesa era recolocada no lugar. Ela exigia que sua mesa fosse alinhada com precisão militar. Tínhamos medo de levar as refeições e os remédios dela.
Sue era a única da equipe que não via Edna como uma mulher amarga e rabugenta. Ela via alguém que raramente recebia visitas e ofereceu-se para levar suas refeições.
“Não sei como você gosta da mesa. Talvez você possa me mostrar?”, sugeriu Sue quando trouxe uma refeição. Edna sentou-se ereta, olhou para ela e então explicou como gostava das coisas. Quando cheguei com o remédio, as duas estavam conversando. Edna tomou as pílulas, mal notando a minha presença.
Edna e Sue tornaram-se amigas. Professora de matemática aposentada, Edna sempre foi atraída pela precisão. Mesmo assim, ultimamente sua vida tornara-se imprevisível. Depois de cuidar da irmã até a morte, seu poodle também morreu. Ela precisava afirmar seu controle em algum lugar e fixou-se nas mesas. Mas, quando encontrou a companhia de Sue, as mesas perderam a importância.
Sua saúde melhorou rapidamente e ela parou de discutir conosco. Foi preciso uma mesa, uma pessoa disposta a cuidar dela e uma dose de compaixão.

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