sexta-feira, agosto 11

Fábula moderna da galinha carijó

Fonte : Revista Seleções
Data : Julho de 1976
Autor : não consta

Era uma vez uma pequena galinha carijó, que vivia ciscando no quintal, até que um dia encontrou uns grãos de trigo. Chamou os vizinhos e disse: “Se plantarmos este trigo, teremos pão para comer. Quem quer me ajudar a planta-lo?”
“Eu não”, mugiu a vaca.
“Nem eu”, grasnou o pato.
“Nem eu”, grunhiu o porco.
“Nem eu”, crocitou o ganso.
“Então eu vou planta-lo sozinha”, disse a galinha carijó – e assim o fez. O trigo cresceu bem alto e amadureceu com espigas douradas.
“Quem vai me ajudar a colher o trigo?”, perguntou a galinha.
“Eu não vou”, disse o pato.
“Está abaixo da minha categoria”, resmungou o porco.
“Não vou perder meu status”, anunciou a vaca.
“Não vou perder meu subsídio de desemprego”, queixou-se o ganso.
“Então eu vou colhe-lo sozinha”, disse a galinha carijó – e assim fez.
Finalmente, chegou o tempo de assar o pão. “Quem vai me ajudar a assar o pão?”, perguntou a galinha.
“Está fora do meu horário”, disse a vaca.
“Não vou perder meu subsídio da previdência social”, desculpou-se o pato.
“Nunca me formei, por isso não sei como faze-lo”, declarou o porco.
“Se eu for o único a ajudar, isso será uma forma de discriminação”, afirmou o ganso.
“Então eu vou assa-lo sozinha”, disse a galinha carijó. Assou cinco pães e mostrou-os aos vizinhos.
Todos eles quiseram um pedaço ( na verdade, exigiram uma parte ), mas a galinha carijó disse: “Não, eu posso muito bem comer os cinco pães sozinha.”
“Excesso de lucros!”, gritou a vaca.
“Sanguessuga capitalista!”, berrou o pato.
“Exijo direitos iguais!”, praguejou o ganso.
O porco apenas grunhiu. Então, pintaram cartazes tachando de “desleal” a pequena galinha carijó, e fizeram uma marcha de protesto, gritando obscenidades.
O agente fiscal chegou e disse à pequena galinha carijó: “Você não deve ser tão gananciosa.”
“Mas eu trabalhei para ganhar o pão”, disse a galinha carijó.
“Exatamente”, atalhou o funcionário. “Esse é o maravilhoso sistema da livre iniciativa. Qualquer um pode ganhar o que quiser, mas, segundo as leis governamentais, os trabalhadores produtivos devem dividir o produto do seu trabalho com os inativos.”
E todos viveram felizes para sempre – mas as vizinhas da pequena galinha carijó nunca puderam compreender por que ela nunca mais assou pão.

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