quinta-feira, agosto 24

Pétalas secas

Fonte : Revista Seleções
Data : Novembro de 1979
Autor : Lotta Dempsey

Em 1930, quando Jorge VI e sua filha Elizabeth, depois rainha, estiveram no Canadá, ela mandou distribuir pelos pacientes internados nos hospitais os buquês de flores que lhe haviam sido presenteados. Naquele dia eu estava na sala de partos do Hospital St. Michael.
Anos mais tarde, no dia do aniversário de meu filho, juntei seus presentes e saí para jantar com ele, sua mulher e minha netinha.
O chofer do táxi que peguei, um jovem, estava tão mal-humorado que chegava a ser grosseiro; e disparou a correr. Para faze-lo ir mais devagar eu lhe disse: “Quer ir com um pouquinho mais de calma? E que estou levando aqui uns presentes para meu filho que faz aniversário hoje e algumas coisas são quebráveis.”
“Hoje também é dia do meu, e ninguém vai me dar presente nenhum”, respondeu ele com uma ponta de amargura.
Comecei então a conversar e descobri que ele estava separado da mulher, sem dinheiro e farto da vida. Perguntei-lhe a idade. “Engraçado, você é da mesma idade que meu filho. Onde é que você nasceu?”
“Em Toronto, no hospital St. Michael.”
“Pois então sua mãe e eu certamente estivemos juntas lá!” exclamei.
“Ela morreu quando eu era criança”, atalhou ele, azedo.
Do banco de trás, aproximei-me dele e toquei seu ombro. “Quer saber como foi o dia em que você nasceu?”
Ele fez que sim com a cabeça. Contei-lhe então sobre o povo nas ruas por causa da visita real e de minha preocupação que o médico ficasse preso no tráfego. Chegamos no momento em que eu falava dos botões de rosa da princesa. O motorista parou o carro, e encarou-me com um olhar maravilhado; depois me disse numa voz muito, muito suave. “Ah, então isso explica aquelas pétalas secas dentro da Bíblia de mamãe. Eu, a vida inteira, quis saber.”

Nenhum comentário: