quinta-feira, agosto 10

O dinheiro às vezes compra a felicidade

Fonte : Revista Seleções
Data : Junho de 1986
Autor : Fredelle Maynard

Nem só de pão vive o homem.

No bairro de gente remediada onde fui morar logo que me casei, todo mundo se lamentava da falta de dinheiro. Gastávamos o mínimo possível em alimentação e transporte, e planejávamos reformar nossas casas. Antes de mudar para bairros melhores, a maioria havia adquirido um espaçozinho extra, um pátio ou um sótão renovados.
Todo mundo, menos Amy e Frank, pais de cinco crianças. Eles sonhavam em mandar instalar um segundo banheiro, só que nunca tiveram dinheiro para isso. Mas sempre conseguiam juntar um dinheirinho para sair de férias no verão: compravam sete maiôs, cinco baldinhos, cinco pares de nadadeiras, enfim, o equipamento todo. Achávamos que eles eram malucos.
Recentemente encontrei Frank. Os filhos cresceram, mas ele e Amy ainda residem no velho bairro, na mesma casa com um banheiro só. “Durante anos apertamos o cinto”, disse, “Mas há pouco tempo um dos meninos nos escreveu, dizendo: “Jamais esquecerei aquelas férias na praia.’ Você acha que ele alguma vez escreveria: ‘Jamais esquecerei aquele esplêndido banheiro extra’?”
Amy e Frank descobriram cedo um segredo vital: decidir o que é importante na vida e lutar por isso, mesmo que pareça inatingível. Se o que você deseja é uma casa com jardim, talvez tenha de desistir de comprar um carro. Se o seu conceito de felicidade, porém, é guiar uma Mercedes, então é melhor pensar em morar num apartamento pequeno. Trata-se simplesmente de uma questão de prioridades.
Um rendimento limitado pode ser gerido de duas maneiras: você poderá ser sensato, repartindo cuidadosamente o dinheiro pelas despesas de alimentação, vestuário, transportes, aluguel; ou ser impulsivo. Se, apesar das atuais circunstâncias modestas, você é otimista quanto ao futuro, deve fazer extravagâncias calculadas: reduzir o orçamento em áreas sem interesse e alarga-lo a outras que o façam feliz.
Certas pessoas cresceram influenciadas pelo mito dos jovens pobres que vencem na vida através do trabalho árduo e da abnegação. Elas ficam segurando o pássaro que tem na mão ( e que é capaz de ser apenas um pardal ), quando ali perto, no meio dos arbustos, talvez fosse possível apanhar facilmente um belo pavão. Poupam para os dias difíceis, mas desperdiçam boas oportunidades.
Conheço um casal muito jovem, que vivia obcecado com a idéia de segurança. Enquanto seus amigos constituíam família, Jean e Victor economizavam. Quando acharam que haviam juntado o suficiente para ter filhos, Jean estava com 39 anos. Há três anos ela tenta engravidar, em vão. Um caso demasiado radical? Talvez, mas ilustra uma realidade. Se você quer mesmo algo ( um bebê, uma viagem ou televisão a cores ), então o melhor talvez seja considerar isso condição indispensável para ser feliz.
Aprendi isso na infância, quando meu pai estava desempregado e nossas refeições consistiam principalmente de xepas dos mercados e feiras. Um dia, arregalando os olhos diante de uma vitrina, cobicei ardentemente um broche de plástico vermelho, em forma de flor. Corri para casa e implorei um dinheirinho a mamãe. Ela suspirou. Papai, porém, disse: “Dá o dinheiro. Nunca mais a felicidade vai custar tão barato.” A compra do broche me fez sentir milionária.
Meus amigos que parecem mais felizes são os que lidam com o dinheiro de forma despreocupada. Os Johnson não tem carro, mas no ano passado foram ao Havaí. Eve, que mora num quarto modulado, usa roupas de boutique. Ada foi dar uma volta com as filhas e parou para lanchar num restaurante luxuoso, embora viva contando os tostões. “os garçons usavam luvas brancas”, lembra ela. “No salão de jantar, um quarteto de cordas tocava música clássica. Estava todo decorado com vasos de cristal cheios de flores. Passamos dois dias a pão e laranjas, para compensar a extravagância, mas as meninas esqueceram nossos problemas durante aquele verão. Elas só lembram do dia do lanche.”
Vamos imaginar que não é só uma questão de desistir de uma coisa em favor da outra. E se você não pode pagar pelo que ambiciona? Um sonho verdadeiramente importante carrega consigo a energia necessária à sua própria realização. Estou pensando num casal amigo meu, cujo filho único parecia ter queda para a música. Aos três anos, Gary, de ouvido, cantarolava melodias e compunha canções ao piano. Seus pais estavam decididos a proporcionar-lhe as melhores lições de música possíveis, mesmo que isso significasse guiar 100km até a cidade mais próxima. A mãe trabalhava de noite na biblioteca; o pai, professor, dava aulas particulares em casa.
Os amigos comentavam: “Por que essa canseira toda, só para pagarem os melhores professores de uma criança pequena?” Ao fim de uns anos, essas lições estavam sendo dadas de graça pelos professores, encantados com o aproveitamento da criança. Atualmente, aos 17 anos, Gary já tocou com algumas das melhores orquestras dos Estados Unidos e foram-lhe oferecidas bolsas de estudo em dois importantes conservatórios. Nada disso teria acontecido se seus pais se houvessem limitado a pagar lições mais baratas. “Eu própria era uma garotinha talentosa”, comenta a mãe de Gary, “mas meus professores eram medíocres, o que me desmotivou. Gary tem recebido atenção e inspiração desde o início.”
Penso que este caso demonstra a importância de agir como se o dinheiro fosse uma preocupação secundária, o que de certo modo é. Segundo essa teoria, viver além das nossas posses não significa viver fora das possibilidades do nosso ordenado ( o que seria desastroso ), mas de acordo com a perspectiva mais correta que tivermos de nós próprios. Escolha o que o fará feliz e lute por isso. Embora você conte todos os tostões do seu ordenado, talvez valha a pena mandar as crianças para uma colônia de férias ou colocar jaquetas de porcelana nos dentes. O prazer, o luxo, a extravagância ( chame isso como bem entender ), poderão ser desproporcionais ao seu dia-a-dia. Tanto melhor. Isso vai ajudar o seu ego a amenizar a sua existência.

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