sexta-feira, outubro 27

Como tratar uma mulher

Fonte : Revista Seleções
Data : Março de 1973
Autor : Will Stanton

É uma arte que qualquer homem pode adquirir, se tiver... bem, se tiver qualidades para tanto.

Provavelmente, a mais importante lição que um homem pode aprender sobre a mulher é que o que ela quer nem sempre é o que ela diz que quer. Descobri isso no caminho de volta da escola, quando pela primeira vez saí com Maggie. Tínhamos estacionado o carro num lugar romântico, e tentei passar um braço sobre os seus ombros. Ela disse-me que parasse, e eu parei.
Depois de uns cinco minutos de silêncio, ela disse-me que tinha a impressão de que eu não gostava dela. “Olhe”, comecei eu, “quando tentei abraça-la você não me disse que parasse?”
“Não há dúvida”, respondeu Maggie. “Mas não lhe pedi que fizesse disso um ponto de honra.”
Desde então, a vida já não foi a mesma para mim.
Acho que é no carro que a maioria dos homens mais aprende sobre as mulheres. Um amigo meu levava a esposa de táxi ao hospital, para o nascimento do primeiro filho. Ele se agitava nervoso ao lado da mulher, até que ela lhe disse que deixasse de se preocupara e que se acalmasse, porque estava perfeitamente bem. Então ele recostou-se, acendeu um cigarro e começou a conversar com o motorista.
Só muito depois é que ele me contou o caso, acrescentando: “Se uma mulher grávida lhe disse para relaxar, relaxe só um pouco.”
Os desejos das mulheres são freqüentemente contraditórios. Por exemplo, em dezembro último, Maggie foi a um leilão e voltou com o carro cheio de tapetes feitos à mão e trastes velhos de cozinha. “Sei que dei um rombo no orçamento”, disse ela, ”mas foi uma pechincha. É o meu presente de Natal. Quer dizer, você pode dar-me ainda uma colônia ou um foulard, mas, se me der mais do que isso, vou ficar zangada.”
“Então papai não vai dar nada a você?”, perguntou a pequena Jeannie.
“Bem, espero que ele tenha alguma coisa para mim”, disse Maggie. “Mas o principal presente já ganhei”, arrematou com um sorriso de orgulho.
Na manhã de Natal, ela ficou realmente surpreendida com a bandeja antiga de fazer massa que lhe dei. Ela pegou-a com o enlevo com que se pega numa obra de arte. Ao mesmo tempo, mostrou-se um pouco aborrecida. “Nós fizemos um pacto”, disse, “e você rompeu. Não é justo gastar tanto comigo.”
Sorri. “Talvez não seja você a única caçadora de pechinchas. Um velho fazendeiro tinha isso no celeiro, cheio de comida para galinhas, e aceitou uma ninharia de pagamento.”
“Qualquer pessoa vê logo que tem valor.”
“Você nem pode imaginar como isto estava – com 50 anos de teias de aranha e estrume de galinha.”
Maggie deixou escapar um “oh” de desapontamento.
“E tive de inventar uma maneira de limpa-la . Então levei-a a um marmoreiro que faz lápides de sepulturas e mandei limpa-la com jatos de areia.”
“Que faz lápides de sepulturas...”
“Exatamente. Depois passei uma solução restauradora por cima, e veja que beleza.”
“Que beleza...” Ela olhou a bandeja de novo, mas agora tinha desaparecido o enlevo. “Bm, com essa conversa toda, o jantar está atrasado.”
Tenho pensado um pouco desde então, e conclui que a mulher adora achar pechinchas em toda a parte – exceto debaixo da árvore de natal.
Um das coisas que toda a mulher gostaria de fazer era uma dieta de 30 dias que já tivesse começado um mês antes. Maggie quer sempre perder uns quilinhos, mas nunca leva a dieta avante. “O que preciso é que me animem”, diz ela, “que me dêem apoio moral. Nunca consegui isso de você.”
“Não gosto de mulheres magricelas”, disse. (A experiência tem-me mostrado que, quando a cozinheira faz dieta, todos em casa emagrecem.)
Mas acontece que justamente o vestido que ela queria estava um pouco apertado. Se emagrecesse um pouquinho, ele lhe cairia perfeitamente. Vi então que ela necessitava realmente de uma motivação extra. “Ficarei contente de poder ajuda-la.” Estendi a mão e dei-lhe uma palmadinha.
“Você está ficando um pouco flácida.”
“Flácida?”
“Eu quis dizer sólida.”
“Sólida?”
“Olhe, eu prefiro assim. Sempre fui fã da Mae West.”
“Mae West...”
No jantar, aquela noite tivemos agrião cozido na água. Quando ela terminou o regime, com o meu apoio moral, eu tinha perdido quatro quilos.
Agora, se uma mulher diz que quer a sua opinião honesta, é certo que já tem a sua formada e está procedendo a um voto de confiança. Uma resposta errada, e ele fica infelicíssima. Assim, quando Maggie comprou dois vestidos e me perguntou de qual deles eu gostava mais, decidi que, desta vez, iria tomar mais cuidado no que diria.
“Bem”, disse, “o azul realça a cor dos seus olhos.”
“Você acha?” Ela parecia desapontada.
“É, talvez seja demais”, disse. “Agora, o verde...”
“Eu não tenho nada que combine com o verde. Nem sapatos, nem bolsa.”
“E quanto ao tecido?” perguntei. “Qual deles dura mais?”
Ela olhou para o teto. ~”Não se escolhe vestido de festa pela sua durabilidade”, disse.
“Não entendo nada disto”, retruquei. “Em algumas das festas a que tenho ido...” e ri. Maggie não.
Por fim, ela devolveu os dois vestidos. “Não consigo entende-la”, eu disse. “Pensei que você tivesse gostado dos dois.”
“E, realmente, tinha”, afirmou ela. “Mas você não gostou de nenhum deles. Deduzi logo isso, de tanto que você ficou mudando de opinião.”
Recentemente, fomos visitar a família de Maggie. A caminho, minha mulher pediu-me que tentasse ser amável com a irmã, Joanne. “Você é tão crítico! E você sabe como é Joanne, como pensa que tudo é indireta para ela.”
“Sua família pensa que tudo é indireta.”
“Mas eu não sou assim”, disse Maggie.
“Farei o possível”, prometi. “Mas você sabe que a sua irmã é do tipo de pessoa que acha que imbecil é palavrão.”
“Mas é minha irmã”, retrucou Maggie.
Decidi então que ia fazer um grande esforço. Joanne não era horror nenhum – até que era bonita e oito anos mais moça que Maggie. E, no fim da história, eu não era obrigado a ficar ouvindo-a .
No caminho de volta para casa, comentei que, no fim das contas, o fim de semana tinha sido bem agradável. Maggie vinha silenciosa. “Desta vez, tentei realmente ser amável com Joanne”, disse.
“Eu notei.”
“Sabia que era isso que você queria.”
“Toda a família notou.”
“Não foi o que você me pediu?”
“As pessoas na rua notaram. Olhe, eu pedi a você para ser simpático com ela, mas não para ficar bancando o Charles Boyer com aqueles olhares compridos para ela, ou para ficar com ela no porão da casa durante hora e meia!”
“Nós estávamos procurando o jogo monopólio.”
“Qual foi a última vez que você dançou comigo? Ou me levou para um passeio? Ou me escreveu pequenos versinhos engraçados?”
Fiquei revoltado com a injustiça. “Ouça”, disse, “sua irmã é a garota mais estouvada deste lado do planeta. Não pára de falar um minuto, é incapaz de desligar a televisão enquanto houver programa. É a alma da festa, que não consegue ir a uma festa. Desculpe-me, mas é assim mesmo.”
Maggie pensou um pouco, e disse: “Mas é a minha irmã.”
Houve uma época em que Maggie teve o vírus das 24 horas. Levei as crianças para a casa de um vizinho e cuidei dela o melhor que pude. Mas ela passou uma noite horrível, e, de manhã, a única coisa que queria era chá. Então pediu-me que saísse para tomar o café da manhã fora.
“Uma torrada, para mim, chega.”, disse.
“Isso eu não vou deixar que você faça”, disse ela com energia. “Não quero que você também fique doente. Pegue o carro, vá a um restaurante e tome um bom café da manhã.”
Quando voltei, ela perguntou-me o que tinha comido. Se fôssemos recém-casados, talvez eu lhe tivesse dito a verdade – que tinha tomado meu café da manhã predileto, ou seja, melão, salsicha, torradas, batatas fritas, três xícaras de café e um charuto. Mas, durante essas 24 horas, ela não tinha comido nada. Olhei para ela, e vi-a ali estirada, tão pálida e abatida! “Você vai ficar zangada”, disse, “mas não pude comer mais que meia torrada.”
Acho que o vírus já havia terminado o seu ciclo, porque a recuperação da minha mulher foi notável. Apesar dos meus protestos, ela levantou-se e desapareceu na cozinha. Quinze minutos depois, chamou-me, e ali na mesa da cozinha, estava meu café da manhã predileto: melão, salsicha, torradas, batatas fritas e café. Maggie sentou-se à mesa diante de mim, de maneira a poder ver o meu prazer em comer tudo aquilo.
As maneiras pelas quais um homem pode demonstrar amor à mulher são muitas. Pode faze-lo escalando montanhas, atravessando rios a nado ou abatendo dragões. Ou até mesmo comendo uma torrada com um sorriso nos lábios.

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