Fonte : Revista Seleções
Data : Abril de 1972
Autor : Jerry Della Femina
Escrevo isto ás quatro horas da manhã, na sala de espera de um hospital. Deitada num berço, a 15 metros de distância, minha filhinha Jodi, de três anos, dorme – com as mãos atadas ao longo do corpo, para evitar que toque nos 100 pontos que tem no rosto. Vejam só, há poucas horas, Jodi cometeu um erro terrível. Um erro quase fatal: confiou no mundo dos adultos.
Como um milhão de outras crianças de três anos de todo o mundo, deu a mão à mãe, saiu com ela e foi brincar no parque. Passaram por um edifício onde um jovem militante acabava de colocar uma bomba feita de um cano de 40 centímetros de comprimento. Acho que foi Jodi que escolheu a hora errada – passou pelo edifício exatamente quando a bomba explodiu.
A explosão atirou uma chuva de vidros aguçados à sua carinha pequenina. Agora todos sabemos que o militante não pretendia ferir Jodi. Não. O que ele pretendia era “justiça” e a minha garotinha, por acaso, atravessou-se no seu caminho. Haverá quem diga que Jodi, por ser um membro de três anos da camada dominante da sociedade, teve a culpa. Quando um homem pretende endireitar as injustiças do mundo com uma bomba, a culpa, em casos como o de Jodi, é de quem se atravessa no seu caminho.
Os revolucionários deste mundo dirão que o homem que colocou a bomba se limitou a escolher a sua maneira de ser ouvido. Não faltará até quem apresente uma quantidade de boas razões para lançar bombas, matar policiais, incendiar, fazer arruaças, pilhar e odiar.
Antes de me sentar e escrever estas linhas, fui ao quarto de Jodi. Sorriu-me, com os seus labiozinhos dilacerados, e disse: “paizinho, eu estava correndo e caí.”
Jodi não sabe o que é uma bomba, nem para que serve; ainda pensa que caiu e se machucou. Por momentos, desejei explicar-lhe o que sucedera, mas depois compreendi como seria ridículo. Por isso fiz uma coisa que não fazia desde criança: chorei.
Como se pode explicar uma bomba a uma criança de três anos? Como se diz a uma criança que um homem pegou dinamite e chumbo grosso e fez uma bomba que rebentou e dilacerou o rosto da criança? Como se lhe pode explicar que ele fez isso em nome da “justiça” e da “liberdade”?
Você é capaz de explicar isso?
Eu não sou.
Data : Abril de 1972
Autor : Jerry Della Femina
Escrevo isto ás quatro horas da manhã, na sala de espera de um hospital. Deitada num berço, a 15 metros de distância, minha filhinha Jodi, de três anos, dorme – com as mãos atadas ao longo do corpo, para evitar que toque nos 100 pontos que tem no rosto. Vejam só, há poucas horas, Jodi cometeu um erro terrível. Um erro quase fatal: confiou no mundo dos adultos.
Como um milhão de outras crianças de três anos de todo o mundo, deu a mão à mãe, saiu com ela e foi brincar no parque. Passaram por um edifício onde um jovem militante acabava de colocar uma bomba feita de um cano de 40 centímetros de comprimento. Acho que foi Jodi que escolheu a hora errada – passou pelo edifício exatamente quando a bomba explodiu.
A explosão atirou uma chuva de vidros aguçados à sua carinha pequenina. Agora todos sabemos que o militante não pretendia ferir Jodi. Não. O que ele pretendia era “justiça” e a minha garotinha, por acaso, atravessou-se no seu caminho. Haverá quem diga que Jodi, por ser um membro de três anos da camada dominante da sociedade, teve a culpa. Quando um homem pretende endireitar as injustiças do mundo com uma bomba, a culpa, em casos como o de Jodi, é de quem se atravessa no seu caminho.
Os revolucionários deste mundo dirão que o homem que colocou a bomba se limitou a escolher a sua maneira de ser ouvido. Não faltará até quem apresente uma quantidade de boas razões para lançar bombas, matar policiais, incendiar, fazer arruaças, pilhar e odiar.
Antes de me sentar e escrever estas linhas, fui ao quarto de Jodi. Sorriu-me, com os seus labiozinhos dilacerados, e disse: “paizinho, eu estava correndo e caí.”
Jodi não sabe o que é uma bomba, nem para que serve; ainda pensa que caiu e se machucou. Por momentos, desejei explicar-lhe o que sucedera, mas depois compreendi como seria ridículo. Por isso fiz uma coisa que não fazia desde criança: chorei.
Como se pode explicar uma bomba a uma criança de três anos? Como se diz a uma criança que um homem pegou dinamite e chumbo grosso e fez uma bomba que rebentou e dilacerou o rosto da criança? Como se lhe pode explicar que ele fez isso em nome da “justiça” e da “liberdade”?
Você é capaz de explicar isso?
Eu não sou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário