quarta-feira, outubro 25

A fantástica criatura chamada abelha

Fonte : Revista Seleções
Data : Junho de 1985
Autor : Jack Denton Scott

Aqui, só as fêmeas trabalham (e como). Em compensação, ser macho tem sérias desvantagens...

Como seria um mundo inteiramente comandado por seres do sexo feminino?
Preparem-se homens. Tal coisa existe e é extremamente organizada, arrumada, e segura, contando com uma mão de obra altamente especializada, uma elaborada estrutura social, um surpreendente sistema de comunicações e uma muito bem nutrida população. É um verdadeiro paraíso ergomaníaco, mas não deixa de ser também um mundo cruel: os poucos machos que o habitam deixam de ser alimentados após completarem suas funções...
Esta sociedade de irmãs forma o círculo particular das abelhas de mel, as mais valiosas e prolíferas. Elas pertencem à grande família de insetos Apoidea, que inclui 20.000 espécies, entre elas as mangangavas ( bombus) e as abelhas do pau ( xylocopidae).
As domesticadas vivem em colméias artificiais de madeira, projetadas de forma a permitir que a estrutura que contém os favos possa ser removida sem causar-lhes transtornos. Cada colméia comporta cerca de 60.000 residentes.
A ação dentro de uma típica cidade colméia parece uma confusão frenética, mas é tão controlada quando o lançamento de uma nave espacial. As duas categorias de residentes – as abelhas domésticas e as do campo – realizam as mais variadas tarefas. Entre as domésticas incluem-se as “empregadas”, responsáveis pela remoção de detritos. Caso um objeto seja grande demais para ser retirado – um rato, por exemplo, morto a ferroadas após ter invadido a colméia -, elas o escalpelam e mumificam com própolis, uma resina extraída de árvores.
As “ventiladoras” também se incluem entre as domésticas. Elas se postam próximo à entrada da colméia e batem as asas para ventilar o interior. E há as “coveiras”, encarregadas de remover as abelhas mortas da colméia.
A seguir encontram-se as “operárias”, cuja função principal é construir novos favos para a armazenagem do mel. A cera de abelha ( uma espécie de gordura) é excretada por glândulas na parte inferior do abdomem das operárias. Após retirarem a cera com as patas, elas a mastigam, formando bolas minúsculas para a construção de um prodígio de engenharia: o favo, hexagonal e feito em duas camadas, utilizado para a criação de abelhas jovens e armazenagem do mel. As operárias consertam velhos favos, enquanto as “recobridoras” revestem de cera as camadas recém construídas.
Disse Charles Darwin: “É preciso não ter sensibilidade para não ser tomado por uma profunda admiração ao se examinar com cuidado a estrutura tão regular de um favo, e tão perfeitamente adaptada ao objetivo que deve atingir.” Ademais, como abelhas operárias, tendo a completa metamorfose ( do ovo à abelha) levado apenas 21 dias.
Uma abelha mestra põe ovos fecundados e não fecundados – e ambos se desenvolvem. Os primeiros dão fêmeas e contém genes da rainha e dos zangões que a fertilizaram. Os não fecundados produzem machos com genes herdados apenas da rainha.
As abelhas, que emergem do estado de pupa como fêmeas aladas, imediatamente assumem suas tarefas, e, ao que parece, sem instruções das mais velhas. Por cerca de 20 dias as obreiras desempenham tarefas domésticas, como limpar as células do favo, ventilar a colméia e recolher detritos. Em três semanas elas estão prontas para cumprirem inteiramente sua missão principal – a fabricação de mel.
Durante mais de 4.500 anos, os homens vem utilizando o mel e a cera das abelhas. O mais antigo documento gráfico deste fato é um baixo relevo, egípcio, datado aproximadamente do ano 2.400 AC, que mostra um apicultor fumigando uma colméia e trabalhadores filtrando o mel, enchendo com ele potes de barro e vedando-os. Aristóteles dizia que o mel era “o orvalho destilado das estrelas e do arco-íris.” Outros gregos o denominaram “o néctar dos deuses”.
Só nos Estados Unidos recolhem-se por ano aproximadamente 90 milhões de quilos de mel. Além disso, por cada tonelada comercializada, são vendidos 14kg de cera.
Durante séculos esta foi a única conhecida, e foi dela que se fizeram as primeiras velas. Os egípcios a utilizavam para embalsamar corpos. Hoje a cera de abelha entra também na confecção de lustra-móveis, cosméticos, produtos farmacêuticos e moldes de dentes.
À parte a utilização desses produtos, as abelhas contribuem de forma ainda mais importante para a economia. Ao colherem o néctar, elas roçam nos órgãos reprodutores das flores, fazendo as vezes de vetores da polinização. Plantas e árvores – tudo, desde maçãs e pêras até aspargos e brócolis, depende ou se beneficia de tal polinização feita pelos insetos, principalmente abelha. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que para cada dólar de mel as abelhas produzam mais de 100 de polinização.
É assim que as laboriosíssimas irmãs da colméia trabalham para todos nós.

Nenhum comentário: