segunda-feira, maio 29

Acredite, se quiser !....

Fonte : Revista Seleções
Data : Agosto de 1973
Autor : William Allen

Apesar da morte de Robert Ripley, em 1949, sua famosíssima coluna ilustrada continua a sair, graças a um pesquisador veterano cuja extraordinária atividade é, digamos, inacreditável.


O sapo-verde-das-árvores é VENTRÍLOQUO. Emite a voz de tal maneira que as espécies predatórias nunca conseguem localiza-lo pelo coaxar!

Se todos os chineses do mundo marchassem em colunas de quatro, eles NUNCA ACABARIAM DE PASSAR POR UM DETERMINADO PONTO, MESMO QUE MARCHASSEM ETERNAMENTE!

O NERVO DENTAL de um elefante pode pesar até CINCO QUILOS E MEIO!

Numa recente entrevista na televisão, o apresentador mostrou uma brochura do Acredite se Quiser!, de Ripley, citou parágrafos como estes, observou brincando que não acreditavam em nenhum, e disse que, apesar de Robert Ripley estar morto, alguém ainda estava produzindo a coluna para os jornais. Ele não sabia ao certo quem.
Na verdade, a seção Acredite se Quiser! De Ripley, com itens quais os acima citados, vem sendo publicada há quase tanto tempo sem Ripley quanto com ele, graças aos esforços contínuos e anônimos de seu notável pesquisador, Norbert Pearlroth. Apesar de a coluna já não atrair a atenção do público como antigamente, ainda é publicada em 330 jornais em 32 países, e sua 21ª edição em forma de livro encontra-se em preparo.
É difícil, para os mais jovens, imaginar como foi popular o Acredite se Quiser!, há tempos. As pesquisas demonstravam que a seção atraía o maior interesse do leitor, só perdendo para as fotos da primeira página, em qualquer jornal, em qualquer lugar. As cartas dirigidas a Ripley atingiram, em determinada altura, um milhão por ano, a maior quantidade de correio já recebida por um indivíduo no mundo inteiro.
Um desenho, em particular, parece ter levado o desenhista norte-americano a atingir o sucesso. Algumas semanas após o histórico vôo de Charls Lindbergh, em 1927, Ripley publicou um desenho do Spirit of St. Louis, com a legenda: LINDBERGH foi o 67º homem a atravessar o Oceano Atlântico, num vôo sem escalas!
A afirmação desencadeou uma tempestade de indignação. Cerca de três mil telegramas e cartas chegaram a casa de Ripley num só dia. Mas ele já tinha a resposta preparada. Lindbergh tinha realmente sido precedido por 66 homens – dois num avião, 32 num dirigível inglês e 32 num zepelim alemão. Sem dúvida, Lindbergh tinha sido o primeiro a fazer a viagem sozinho, mas Ripley nunca afirmara o contrário.
Naquela época, o Acredite se Quiser! era publicado por apenas trinta jornais, mas o item sobre Lindbergh chamou a atenção nacional para seu criador. Logo passou a ganhar mais de cem mil dólares por ano, só com a coluna ilustrada. Assinou um contrato de 350 mil dólares com a Warner Brothers, para fazer 26 filmes curtos e, por volta de 1930, tinha seu próprio programa de rádio. Os presidentes lhe escreviam. As universidades lhe prestavam homenagens. Ele passou a ser, naquela época, um dos conferencistas mais bem pagos do mundo.
Como conseguiu Ripley tudo isso:? O mais importante foi a idéia da coluna ilustrada – o que lhe ocorreu, por acaso, quanto tinha 25 anos, e era desenhista esportivo no Globe de Nova York. Em 1918, num dia fraco para notícias esportivas, ele juntou alguns desenhos e legendas sobre difíceis façanhas atléticas – como, por exemplo, a do homem que atravessou o continente andando de costas, usando um espelho retrovisor. Pensou em chamar a seção de Champs and Chumps ( Campeões e Tolos ), mas, no último minuto, mudou para Acredite se Quiser! No dia seguinte, o sucesso da coluna foi tão grande que Ripley começou a desenterrar mais fatos desconhecidos, não se limitando apenas ao esporte, mas mantendo o formato básico de um desenho e de uma legenda incisiva para cada item.
Ao longo do tempo, foram introduzidas variações, assim como um truque ocasional ( exemplo: o item sobre Lindbergh) e os jogos e adivinhações. O Acredite se Quiser! Não descobria somente fatos pouco conhecidos da história; algumas vezes, fazia história. Em 1929, por exemplo, a coluna informou corretamente os seus leitores de que a música do hino nacional norte-americano era calçada numa velha canção de bêbados inglesa, To Anacreon in Heaven. A reação, é claro, foi de relutância geral em acreditar. Ripley foi mais adiante, e disse que o Congresso nuna havia oficializado The Star-Spangled Banner como hino nacional do país. No espaço de uma semana, mais de cinco milhões de americanos haviam escrito aos deputados, e, pouco tempo depois, o Congresso aprovava a oficialização devida.
O homem que tem sido o pesquisador do Acredite se Quiser! Durante cinqüenta anos, Norbert Pearlroth, tem muito para contar. Diz Norbert: “A seção satisfaz a elementar necessidade humana de fugir da rotina do dia-a-dia para o reino do inacreditável. Oferece ás pessoas uma história de fadas, que é espantosa, mas absolutamente verídica. Acredite se Quiser! Mostra que a vida não é previsível e monotonamente igual. Há algumas gloriosas exceções, e ela as apresenta.”
Apesar de desconhecido para a maior parte dos milhões de leitores do Acredite se Quiser! Pearlroth é a própria razão do sucesso inicial e continuado da coluna. Os dois se encontraram há cinqüenta anos, quando Ripley se queixou a um amigo de que vinha tendo dificuldades em encontrar material aproveitável. Preocupava-o particularmente a sua ignorância das línguas estrangeiras. Podia olhar os livros em outros idiomas, e descobrir fotografias interessantes, mas nunca conseguia entender os mistérios ali descritos. O amigo, um gerente de banco, disse-lhe que tinha como empregado um jovem austríaco, chamado Norbert Pearlroth, que falava treze idiomas. Ripley entrou em contato com Pearlroth, e pouco depois o jovem poliglota foi trabalhar com ele, como pesquisador, em tempo integral. Depois disso, Ripley pode se dedicar todo o tempo à ilustração, até que morreu de um ataque de coração, em 1949.
Hoje em dia, o processo de Ripley continua em três ativos escritórios no edifício da King Features, na cidade de Nova York. A equipe é composta por um gerente ( Helen Kish Monahan ), dois artistas (Paul Frehm e seu irmão, Walter ) e, evidentemente, o espantoso Norbert Pearlroth, agora com 76 anos de idade. Pearlroth tem de arranjar 24 assuntos por semana – três para cada dia útil e seis para a edição dominical. Trabalha com vários meses de antecedência. Às vezes, acontece passar dois dias sem encontrar nada, mas, no fim-de-semana ( procurando melhor porque está se atrasando ) consegue por o trabalho em dia.
As sugestões dos leitores são cuidadosamente lidas, mas alta percentagem desses itens constitui matéria muito “cruel” para o público em geral. No escritório existem, por exemplo, recortes de jornais, já amarelados, que falam de um homem, cortado acidentalmente ao meio por uma máquina, e que ainda conseguiu sobreviver por cinco horas, sem perder a consciência.
Norbert Pearlroth tem seu segundo quartel-general de trabalho na Biblioteca Pública de Nova York. Ali, ele é cumprimentado por quase todos os funcionários que encontra. Vai para a sala das fichas, vê uma gaveta delas em cima de uma mesa, e senta-se sem se preocupar em ler a etiqueta. Não faz diferença nenhuma. Apanha sempre uma gaveta qualquer, percorre-a rapidamente, escolhe cerca de dez livros que lhe parecem interessantes e depois, com um entusiasmo de colegial, folheia-os durante o resto da tarde.
Enquanto está anotando números de fichas em seu pequeno caderno, um jovem de cabelos compridos senta-se perto dele. “Sr. Pearlroth, um bibliotecário me disse quem é o senhor. Poderia me dizer qual foi o mais inacreditável Acredite se Quiser! De todos os tempos? Na sua opinião, claro.”
Pearlroth coça a careca, fingindo refletir, depois inclina-se para frente, e fala num murmúrio confidencial: “O mais estranho Acredite se Quiser! Da história aconteceu no cimo de uma montanha, na Colômbia. Num educandário existente lá, dirigido por frades, o poço havia secado, e os fades corriam o perigo de ter de fechar a escola. Desesperados, escreveram para um certo Padre Aléxis Mermet, famoso vedor ( pesquisador de nascentes de água) da Suíça.
“O Padre Mermet respondeu-lhes dizendo que não podia viajar, mas que se os frades lhe mandassem um mapa detalhado da área, ele teria muito prazer em dizer-lhes se havia lá alguma água. Mandaram-lhe o mapa, e no seu escritório ( a dez mil quilômetros de distância ) ele balançou um pêndulo sobre o mapa, e marcou um ponto com um X. Devolveu o mapa com uma carta, dizendo que, no lugar marcado com o X, eles encontrariam água a uma profundidade de 27 metros e cinco centímetros, com um caudal de quinhentos litros por minuto. Os frades cavaram, e a água estava lá, exatamente como ele havia previsto, até mesmo no que se referia ao caudal.” A voz de Pearlroth sobe de tom: “Como? A dez mil quilômetros de distância! Num pedaço de papel!”
Pearlroth balança a cabeça, outra vez espantado. Depois toca o braço do rapaz. “Há ainda outro detalhe, relativo a isto, que não é do conhecimento geral: um P. S,. da carta do Padre Mermet. Ele dizia pressentir a presença de metal na montanha, e marcou o lugar onde este deveria estar. Os monges cavaram no lugar indicado e encontraram vários frades mortos – todos enterrados em caixões de metal!”
Pearlroth deixa o jovem boquiaberto, e recolhe a pilha de livros que vai ver naquele dia. Leva-os para uma mesa junto a uma das amplas janelas da biblioteca e, como muitas vezes faz, apaga a lâmpada para gozar a luz do sol. Depois de olhar pela janela durante um minuto, começa a folhear um livro. Nada ali. Abre outro. Tem feito isto durante a maior parte de sua vida. E vai continuar a faze-lo enquanto houver alguém que se interesse pelos fatos peculiares que ele descobre, acreditem ou não neles.


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