quarta-feira, maio 3

As sete pedrinhas

Fonte : Revista Seleções
Data : Setembro de 1981
Autor : Kingsley Brown

A festinha estava meio chata, quando uma linda jovem se aproximou de mim sorrindo. “O seu nome não é Brown?” Confirmei e fiquei tentando desesperadamente me lembrar se alguma vez teria visto aquela moça.
“O senhor não me conhece”, explicou ela, “mas eu costumava rezar pelo senhor todos os dias.” E então esclareceu que isso havia acontecido há muito tempo, durante a Segunda Guerra Mundial, quando ela era colegial numa aldeia da ilha de Cape Breton, no Canadá. “Eu acho que o senhor conhece o meu tio Jasper”, prosseguiu ela, e isso fez despertar as minhas reminiscências. Eu, de fato, havia conhecido um Jasper, que era de Cape Breton e, que, tal como eu, servia no Comando de Bombeiros. Juntos havíamos passado três anos num campo de concentração alemão. Sim, eu devia conhecer mesmo o seu tio Jasper.
“Bom”, continuou a jovem, “no dia seguinte àquele em que soubemos que o tio Jasper tinha caído prisioneiro, quando eu ia para a escola, parei sobre a ponte que atravessa um pequeno córrego, apanhei uma pedra, joguei-a à água e rezei uma prece por ele. A partir daí, todas as manhãs procedi ao mesmo ritual. Um belo di, por uma carta do tio Jasper, fiquei sabendo que outro aviador canadense de Nova Scotia tinha chegado ao campo de concentração. Então, todas as manhãs, passei a jogar não uma pedra, mas duas, na água e a rezar uma curta oração por cada um dos homens. Daí a pouco já havia outros; nós íamos conhecendo os seus nomes através das cartas do tio Jasper. No fim da guerra eu já estava atirando todas as manhãs sete pedrinhas no córrego, quando ia a caminho da escola.” A moça deu outra vez aquele seu sorriso simpático e comentou: “Pensei que gostasse de ficar sabendo que o senhor era uma das minhas pedras.”

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