terça-feira, maio 30

Mas que mancada!

Fonte : Revista Seleções
Data : Janeiro de 1999
Autor : Christopher Buckley

Ninguém está livre de cometer uma grande gafe

Prazer em revê-lo – cumprimentei o cavalheiro, empresário conhecido e amigo da família, que eu não encontrava havia bastante tempo. – Como está sua mulher?
Ele manteve o sorriso afável, mas percebi que uma nuvem passou brevemente por seu rosto.
- ela faleceu há três anos – respondeu.
Que é que se faz depois de uma gafe dessas? Comenta-se sobre o tempo? Fui cegamente até o banheiro masculino e bati com a cabeça nos azulejos.
Faux pas, a expressão francesa para esses constrangimentos, significa “passo em falso”. Já não se ouve muito essa frase, o que é uma pena. No momento em que o homo se tornou erectus, começou a dar passos em falso, e isso vem ocorrendo desde então.
Um passo em falso nos lembra que, mesmo que se vista com elegância, a raça humana ainda não está livre dele. No entanto, o que pode ser mais gratificante do que ver um prepotente descer do pedestal por causa de uma tremenda derrapada? Foi esse bálsamo que procurei, após a gafe que descrevi, quando me propus a colecionar histórias de faux pas.
Uma das súditas da rainha Elizabeth recentemente foi manchete dos tablóides por não lhe fazer reverência. A transgressora, em trajes sumários, foi Geri Halliwell – na época, a Ginger das Spice Girls. Ocorre que os americanos e a realeza britânica nem sempre concordam sobre o que constitui uma gafe. Em 1981, Leonore Annenberg, chefe de protocolo do governo americano, causou sensação ao fazer uma reverência para o príncipe Charles, quando lhe deu as boas-vindas oficiais ao país. A senhora Annenberg, mulher afável, estava apenas tentando ser gentil. O problema é que os Estados Unidos travaram uma guerra dois séculos antes justamente para conquistar o privilégio de não precisar comportar-se de modo obsequioso perante a realeza.
E há ainda os equívocos desastrosos. Uma noite, o espirituoso escritor Robert Benchley, ao sair alcoolizado de um restaurante elegante, viu um homem uniformizado que supôs fosse o porteiro e pediu-lhe que chamasse um táxi. O homem, porém, respondeu-lhe secamente.
- Acontece que sou contra-almirante da Marinha dos Estados Unidos.
- Nesse caso – disse Benchley -, consiga-me um couraçado.
Os trajes podem mesmo induzir a confusões. Numa recepção diplomática a que compareceu na década de 60 – alguns dizem que em Viena, outros no Brasil – o chanceler britânico George Brown aparentemente havia apreciado bastante o vinho. Ao ouvir a orquestra começar a tocar certa melodia, dirigiu-se a uma refinada criatura de veste vermelha ao seu lado e perguntou:
- Senhora, vamos dançar?
Conta-se que a refinada criatura de veste vermelha lhe respondeu com toda clareza:
- não senhor Brown, e por três razões. A primeira é que esta é uma recepção e não um baile. A segunda é que, mesmo que estivéssemos num baile, o que estão tocando ainda seria o hino nacional e não uma valsa. E a terceira é que, mesmo que isto fosse um baile e não uma recepção, e que estivessem tocando uma valsa e não o hino nacional, eu não deixaria de ser o cardeal-arcebispo.

Mais gratificante do que uma gafe só uma “volta por cima”. O ator David Niven estava certa vez numa festa elegante, de pé junto a uma escadaria, conversando com um homem a que acabara de conhecer. Duas mulheres no alto da escadaria começaram a descer.
Niven comentou com o homem:
- Aquela é a mulher mais feia que já vi!
O homem empertigou-se e disse::
- Aquela é a minha esposa.
- Eu me referia à outra.
- Aquela é a minha filha.
Niven fitou o homem calmamente e exclamou:
- Eu não disse nada!
Talvez eu tente essa desculpa da próxima vez.

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